Por Diogo Caetano
sdcaetano@gmail.com
Foto: José Melo |
As árvores que
compõem as praças, estradas e avenidas e embelezam os jardins e parques são um
elemento essencial de qualidade de vida. E, no entanto, é crítica a ausência de
sensibilidade das autoridades e, muitas das vezes, das comunidades para o papel
da Árvore em Meio Urbano.
Com a primavera
chegam os cagarros, mas também as podas drásticas, que retiram a dignidade e o
valor estético às árvores, tantas vezes ditas ornamentais, que marginam os
arruamentos e estradas.
Estas podas drásticas
ou radicais são comummente justificadas com base em preconceitos que continuam
interiorizados na população, que muitas vezes as exige quando os responsáveis
pela sua gestão e manutenção optam por outros modelos de condução. Embora
erroneamente persistem mitos de que as podas drásticas ou “rolagens” rejuvenescem
e fortalecem as árvores, ou que são a única forma económica de controlar a sua
altura e perigosidade.
-
Francisco Coimbra,
Ex - Vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Arboricultura, ajuda a
desmitificar 5 concepções erradas acerca das podas drásticas ou “rolagens”.
A poda drástica rejuvenesce a árvore? – NÃO! São as folhas a “fábrica” que produz o seu alimento. Uma poda
que remova mais do que um terço dos ramos da árvore – e as “podas” radicais
removem a copa na totalidade – interfere muito com a sua capacidade de se
auto-alimentar, desregulando o equilíbrio copa/tronco/raízes. O facto de as
árvores apresentarem uma rebentação intensa após uma operação traumática –
resultante do abrolhamento de gemas até então inibidas pelo controlo hormonal
dos ápices agora removidos – não significa rejuvenescimento, mas sim uma
“tentativa desesperada” de repor a copa inicial, à custa da delapidação das
suas reservas energéticas. Nalguns casos, este “esforço” pode mesmo ser fatal,
se à supressão de copa se somarem outros factores de stress, como um Verão seco
ou ataques de parasitas.
A poda drástica fortalece a árvore? NÃO, pelo contrário, a poda radical é um acto traumatizante e
debilitante, uma porta aberta às patologias. As pernadas duma árvore massacrada
têm, pelo seu grande diâmetro, dificuldade em formar calo de “cicatrização”, e
os cortes nestas condições são muito vulneráveis a ataques de fungos
lenhívoros. Para além disso, a copa das árvores funciona como um todo, sendo as
folhas periféricas um escudo para a parte mais interna, protegendo-a das
queimaduras solares. O nosso país está cheio de tristes exemplos, árvores cujo
estado sanitário decadente é o revoltante resultado destas práticas no passado,
as quais deviam envergonhar os seus mandantes!
A poda drástica torna a árvores menos perigosas? – NÃO, estas “podas” induzem a formação, nas zonas de corte, de
rebentos de grande fragilidade mecânica, pois têm uma inserção anormal e
superficial no tronco. Como ao longo do tempo se desenvolvem podridões nesses
locais, esta ligação fica ainda mais fraca, tornando estes ramos instáveis e
potencialmente perigosos a longo prazo. Acresce ainda que nem todas as novas
ramificações são viáveis, pelo que, após alguns anos de concorrência, surgem
relações de dominância entre elas e as dominadas acabam por secar, aumentando o
volume de madeira morta na copa.
A poda drástica é a única forma de a controlar em altura? – NÃO, a quebra da hierarquia – que estava estabelecida entre as
ramificações naturalmente formadas – permite o desenvolvimento de novos ramos
de forte crescimento vertical, mas agora de uma forma anárquica e muito mais
densa! Não se resolve, assim, o motivo por que geralmente se recorre a esta
supressão da copa, pois em alguns anos a árvore retoma a altura que tinha, sem
nunca mais voltar a ter a mesma estabilidade nem a beleza característica da
espécie.
A poda drástica é mais barata? –
NÃO, se a gestão do património arbóreo for pensada a médio e longo prazo!
Aparentemente parece ser mais económico recorrer-se a uma “rolagem” única do
que fazer pequenas intervenções anuais e utilizar os princípios correctos de
poda e corte, investindo na formação do pessoal ou recorrendo a profissionais
especializados nas situações mais complexas. No entanto, esta economia é de
curto prazo, pois se por um lado as árvores se desvalorizam a todos os níveis,
por outro lado está-se a onerar o futuro, que terá que “remediar” uma
decrepitude precoce ou resolver a instabilidade mecânica dos rebentos formados
após os cortes. E a redução da esperança de vida das árvores implementa custos
acrescidos para sua remoção e substituição.
Na primavera que
passa, recomenda-se a muitos dos nossos responsáveis pelas nossas autoridades alguma
bibliografia sobre o tema, nomeadamente: Drénou, C. 1999. La taille des arbres d’ornement. I.D.F., Paris, 268 p. e Shigo, A.
1994. Arboricultura moderna. Edição
portuguesa publicada pela Sociedade Portuguesa de Arboricultura, 165 p.
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