O QUE APRECIAMOS E O QUE GOSTARIAMOS QUE CONSTASSE NESTA E NAS PRÓXIMAS EDIÇÕES DOS GUIAS DE APRESENTAÇÃO DAS FREGUESIAS
Foto. Luciana Magalhães |
O CADEP-CN, na sua designação e ação de Clube dos Amigos e Defensores do Património-Cultural e Natural de Santa Maria, se regozija de sobremaneira, quando vê surgir quaisquer projetos e obras que se debruçam sobre a identidade patrimonial e promoção das diferenças da nossa ilha.
Deste modo, enaltecemos o projeto da Câmara Municipal de Vila do Porto, financiado pela ARDE, no âmbito do PRORURAL, que propõe a feitura de um guia cultural de cada freguesia de Santa Maria, num misto de escrita e fotografia, destinando esse desiderato a jornalistas (marienses e micaelenses) e a fotógrafos profissionais.
Azevinho (Descida do Pico Alto-Alto Nascente) |
O lançamento da primeira obra, escrita pela conhecida jornalista do CAA Ana Paula Braga e ilustrada com fotografias do conceituado fotógrado Pepe Brix, aconteceu no dia 17 de Dezembro, resultando um excelente “guia de apresentação” da freguesia de S.Pedro (chamamos-lhe assim porque a denominação de “roteiro” exigiria outras características que a obra não possui).
O livro não foi escrito por uma "simples jornalista", como ela se apresentou, mas por uma jornalista de rádio experiente, conhecida e conceituada na "praça açoriana", concordando com ela, quando diz que não se trata de uma obra de “escritora”, mas de uma "visão jornalística", alicerçada numa compilação de informação disponível, que quanto a mim, tendo em conta os seus objetivos informativo/comunicacionais, não sei se um qualquer "escritor", o conseguiria fazer de forma tão abrangente e ao mesmo tempo consisa e leve.
Pau-branco (Pilar) |
Talvez por "defeito" da nossa formação na área do ambiente e da educação ambiental e movidos pelos princípios da ação cívico/ecológica que desenvolvemos, mas também tendo em conta a irrefutabilidade de que no conceito de cultura e de identidade de um povo e região, deve "englobar-se o património cultural e natural genuínos", temos um reparo a fazer no que se refere às fotos atinentes às espécies vegetais apresentadas no livro.
Tal como já transmitimos ao seu autor, o conceituado fotógrafo Pepe Brix, não se trata de avalizar a categoria técnica das estampas, pois essa será sobejamente reconhecida por todos e nós não teríamos competência para tal, mas, tão só, discordar do objeto das mesmas.
Folhado e Tamujo (Descida Pico Alto-S.Pedro) |
- Se as fotos do património cultural edificado, correspondem com fidelidade à nossa identidade e ao que temos de marcante e de mais original, o mesmo deveria acontecer em relação aos elementos do património natural apresentados. Assim sendo, nos parece completamente desajustado a publicitação de espécies vegetais exóticas, em estampas de página inteira, e ainda por cima infestantes como a flor da conteira ou jacinto (Hedychium gardneranum), o incenso (Pittosporum undulatum) ou da trepadeira Ipomea indica.
Urze (Barreiro da Faneca) |
Essa ocorrência, que a reconhecemos como inteiramente despercebida por parte do autor, para além do desperdício e até contraproducência de veicular o que não é “nosso” e que é nocivo para os ecossistemas frágeis da nossa região, para os leitores e turistas mais informados (e são esses que nos interessam), até constitui uma contradição, com o conteúdo textual do livro, quando na apresentação do trilho Pico Alto-Anjos, concebido e caracterizado pelos Amigos dos Açores, enfoca as várias espécies endémicas a observar, pelos turistas.
Sugeríamos aos orientadores editoriais (Câmara Municipal e ARDE) tal como já expusemos ao fotógrafo Pepe Brix (tendo obtido a sua concordância) que, nas fotos das edições relativas às restantes freguesias, e numa próxima edição sobre S.Pedro, esses registos fossem preteridos a favor das nossas espécies primitivas e endémicas, essas sim, identitárias da nossa ilha e região, portadoras de um código genético único e que os turistas não as verão em mais nenhuma parte do mundo, constituindo pela sua singularidade motivo de interesse e atração.
Uva-da-serra (PP-Pico Alto-S.Pedro-Anjos) |
Desejamos que o nosso reparo não seja tomado uma crítica pejorativa (quem nos conhece sabe que o não é) mas sim como uma contribuição valorizativa da excelente obra e do projeto editorial no seu todo, podendo sempre contar com a nossa colaboração na mudança que aqui propomos, a bem da valorização patrimonial de Santa Maria e dos Açores
Reiterados parabéns pelo bom trabalho, que constitui, sem dúvida, um bom serviço à ilha que nós todos amamos, queremos promover e deveremos defender de forma unida naquilo que ela tem de mais marcante, de original e de único, quer seja no património cultural, no património natural biológico, ou no património geológico e geomorfológico.
*José Andrade Melo
CADEP-CN e Amigos dos Açores, Sta Maria
16 comentários:
Concordo totalmente com o pertinente alerta feito.
Se quisermos defender património e traior turístas, deveremos afirmar o que é "nosso", porque ver o que há em outros lugares eles não vem apreciar, até que os preços da passagens não o permitem.
Só as "diferenças" é que atraem visitantes, como bem diz o Naturmariense.
Ainda bem que há gente informada e que em boa hora, faz alertas na defesa da nossa identidade cultural e natural.
Boas entradas
Sem dúvida que as nossas plantas endémicas, são património valioso da nossa ilha e dos Açores, que merecem toda a atenção e promoção nos livros.
A sugestão do professor José Melo, faz todo o sentido.
Esperemos é que não façam ourelhas moucas e que os próximos guias tenham as mesmas falhas.
Concordo totalmente e oxalá que nos próximos livros dêem prioridade às nossas arvores endêmicas que fazem parte do nosso verdadeiro património. Parabéns ao Naturmariense pelo alerta, e conhecimentos que tem o coordenador do CADEPCN sobre essa matéria.
Não conheço o livro, mas acho a ideia dos guias de cada freguesia muito interessante, concordando com o professor Zé Melo, que deverá nas fotos as plantas endémicas, que há uns anos atrás só ele é que defendia, mas que agora são muito apreciadas.
Ainda ontem ouvi no telejornal que os Açores, estão a valorizar cada vez mais as árvores endémicas, já tendo os serviços florestais fornecido mais de meio milhão de plantas.
Há mesmo é que postar no que é nosso património.
Bjs e Um bom ano novo para todos, com desejos que este blogue continue em força, porque já é uma local fundamental na defesa do património e educação ambiental da ilha.
Acho uma boa ideia esses livros sobre as nossas freguesias, mas é preciso haver rigor e dar valor real ao que é nosso em primeira mão, quer seja património construido, plantas ou animais.
Parabéns pelo reparo professor José
As nossas plantas endémicas também são um valioso património. Elas merecem destaque e não as de fora, que até abafam e fazem mal às nossas plantas.
Bom alerta de quem é informado e percebe da poda.
Bjs da antiga aluna
Não esquecer o que é nosso em primeiro lugar, porque ninguém vem cá ver o que já há noutras terras.
Parabéns amigo José Melo pelo amor e conhecimento que tens das nossas coisas da natureza e espero que nos próximos livros deixem que o nosso Pepe ponha lá as fotografias das nossas árvores antigas.
Bom ano
Fotografias de plantas que prejudicam a natureza num livro de promoção da ilha!!!?
Que grande asneira!
Também concordo com a correção da falha apontada, mas não foi o Rui que teve culpa disso, mas sim quem orientou a escrita e montagem do livro, que deveria ter pedido opinião a quem sobre as plantas que são endémicas da ilha.
Bom trabalho prestado aqui neste blogue.
Ainda não conheço esse livro novo, mas tou de acordo que ele mostre aquilo que é verdadeiramente da nossa ilha, porque fazer publicidade daqueilo que não é de cá é um erro.
Acho que a emenda apontada no post, deve ser tomada em conta. Não conheço o livro sobre S.Pedro, mas se aparecem fotografias que plantas que não são endémicas daqui, é um erro.
As fotos da uva da serra está linda e não conhecia as flores do folhado, que também são espetaculares.
Plenamente de cordo que um livro para dar conhecimento das nossas freguesias, não tenha fotografias de coisas de outros lados.
Não se deve fazer as coisas por fazer, mas bem feitas.
Oxalá que a coisa seja corrigida porque acho as nossas árvores que estão no artigo lindas, lindas e são património da nossa natureza.
jocas Tânia
Venham os novos livros com as nossas plantas endémicas!
Dar valor primeiro ao que é nosso, deve ser uma regra dos livros e guias de divulgação das terras.
Concordo. Deveremos ser rigorosos e promover só que é verdadeiramente nosso.
Enviar um comentário