RECORDANDO O MESTRE JOSÉ TAVARES RESENDES E ALERTA PARA A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO DA OLARIA MARIENSE
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Mestre José Resendes (Fotolinda) In: Memórias e Lembranças de Sta Maria |
Não num passado muito longínquo, pois bem o lembro, ainda na minha
infância, quando alguma peça utilitária da olaria mariense era quebrada, a mesma era recuperada, se tal fosse possível.
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Depois dos acidentes muito lamentados pelas famílias, para se evitar a
compra de outra peça nova, pois o dinheiro era muito escasso, a esperança
estava no recuperador de loiça, que logo era chamado para o “socorro”.
Um desses recuperadores de loiça mais conhecidos, e ainda presente na
memória coletiva recente de muitos marienses, era o Senhor José Tavares
Resendes, conhecido pela alcunha de “Fura-penicos, que ainda o conheci bem, na
minha infância e adolescência. Falecido em 1986, era uma figura muito popular,
jovial e divertida que circulava em Vila do Porto, S.Pedro e Almagreira à cata
de “loiça partida”, fazendo-se anunciar com um apito, como se as suas
gargalhadas bem dispostas e voz forte, que se ouviam ao longe, não bastassem.
"Gatos" colocados pelo Mestre José Resendes |
Quando o canado, o alguidar, o
talhão, a salga, ou outro qualquer utensílio fora só rachado, o serviço era
mais facilitado, mas quando se partia em cacos, a tarefa era bem mais
complicada, exigindo grande mestria para salvá-la.
-Talhão de Sta Maria recuperado |
No processo de ligação dos cacos,
mestre José Resendes, abria um furo nas extremidades de cada um deles, com
recurso ao seu “pião furador”, que era movido por um curioso sistema mecânico
de cordel, que lhe imprimia um movimento rotativo de retorno, ora para a
direita, ora para a esquerda. Abertos os furos, enfiava neles com pressão e
mestria as pontas pontiagudas de uma peça de metal, em forma de “U”, (conhecida
por “gato”), fazendo assim o ajuste dos cacos um ao outro.
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Ironicamente, o Mestre José Tavares
Resendes o que menos recuperava eram penicos, pois, a colocação dos “gatos” não
impedia cabalmente a saída de líquido pelas rachadelas do barro, daí serem
praticamente todos substituídos por peças novas quando se quebravam. No
entanto, quiseram os marienses que ficasse perpetuado com a alcunha de “Fura-penicos”,
na memória coletiva ligado à olaria mariense, nome que não repudiava, em
virtude do seu bom humor.
-"Canado" recuperado pelo Mestre José Resendes |
Aqui fica a minha homenagem e
gratidão a esta histórica figura popular de Sta Maria, que algumas vezes me
deixou dar voltas ao seu “pião” (quão apetecido que era aquele brinquedo), e me
ofereceu uma réplica rudimentar feita pelas suas mãos, que contribuiu para as
delícias da minha infância.
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O “pião-furador” do Mestre
Resendes, que para ele era uma preciosidade, pela associação que tem à olaria
mariense, deveria ser presença no nosso museu de ilha.
Que saibam preservar/recuperar as
entidades da nossa terra, os marcos históricos da Olaria (oficina tradicional de
oleiro, fornos de loiça/telha, ferramentas/utensílios), e se avance para a concretização
da “Rota do Barro de Sta Maria”, que o CADEP-CN, há muito tem defendido.
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"Povo que despreza os marcos
da sua história e não honra e respeita a sua memória coletiva, está condenado a
perder a sua alma e identidade, não sendo mais do que uma cópia, no
futuro”. (J.Melo)
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* José Andrade
Melo
CADEP-CN (Clube dos Amigos e Defensores do
Património-cultural e Natural de Sta Maria)
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