ESCLARECIMENTO E RESPOSTA NECESSÁRIOS
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Voluntários dão banho aos animais do CAMAC |
Para quem, ainda, não interiorizou o valor
intrínseco da vida sem “especismos”, considera o voluntariado dedicado aos
animais encontrados abandonados ou vítimas de maus-tratos menos nobre do que voluntariados
com outros direcionamentos. A repetida questão suscitada por essas pessoas, “Porque não ajudas pessoas que precisam?”,
surge sempre que me refiro ao voluntariado com animais.
O tempo e as várias reflexões que tenho feito
sobre a temática e sobre essa tão badalada e descabida pergunta, permitem-me fazer
os seguintes esclarecimentos, questões e chegar a várias conclusões.
Primeiro que tudo, não há voluntariado mais
nem menos nobre, quando em causa estão vidas em situação precária e mais
fragilizada, possuidoras de sentimentos e da capacidade de sofrer, quer sejam
pessoas ou animais sencientes.
Jovens do
CADEP-CN entregam donativos
da Campanha “Natal Solidário”
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Segundo, todas as formas de dádiva e de
contribuição cívica gratuita na defesa e promoção do bem-estar da vida,
acarretam um si uma grande nobreza, porque permite dar atenção e dar ajuda a
quem muito precisa dela, sem olhar se esse tempo e ação que estamos a dar de
forma livre e espontânea é para um humano ou para um animal. AMBOS SÃO VIDA!
AMBOS SÃO CRIATURAS DE DEUS!”AMBOS PADECEM DAS MESMAS DORES!
Terceiro, quem geralmente coloca
a questão acima referida, são aquelas pessoas sem histórico visível de voluntariado, nem com
animais, nem com pessoas, daí a nossa grande perplexidade pelo seu
questionamento com feição de crítica.
Mesmo assim, “questiono a questão delas”:
--Se todos fizessem voluntariado com crianças, quem ajudaria os idosos?
Se todos ajudassem os idosos, quem faria voluntariado com as crianças? E se
todos apenas fizessem voluntariado com crianças e idosos, quem olharia pelos
muitos de animais abandonados todos os anos, no país, nos Açores e, ainda, em
Sta Maria, que sofrem e sentem como gente, sem falar das graves consequências
sociais que daí advém para a saúde pública, segurança de pessoas e bens e até
para a imagem de um povo e da sua terra.
Aspecto da “3º Feira de Adoção” (Festas de S.João) |
Por outro lado, quem faz
voluntariado pelos animais, diretamente ajuda a estes, mas também direta e indiretamente
está a ajudar as pessoas, a comunidade e a sua terra. Acrescento, ainda, que
não conheço ninguém que se assuma defensor dos animais, que também não se disponibilize
para auxiliar pessoas, dando bons exemplos de cidadania e de solidariedade em
ambas as frentes.
Somos nós que tornamos nobres as causas onde
nos envolvemos, pela forma intensidade e coerência como lutamos por elas. Se
trabalharmos com respeito, honestidade, vontade e muito amor não há causas no
voluntariado menos dignas, desde que estejam em causa vidas, sendo a defesa do
ambiente e do património também muito importantes, entre outros direcionamentos
de interesse público.
Dizer que um animal é menos digno que uma
pessoa para merecer que alguém gaste o seu tempo com ele, prova que certos
humanos andam muito enganados em relação à natureza e ao valor intrínseco da
vida. A convivência com animais tem-me
ensinado que são seres maravilhosos, com elevados sentimentos, gratidão e amor
incondicional que gostaria de observar em muitos humanos.
De forma errónea, o ser humano
assumiu a supremacia de todas as espécies, colocando-se numa espécie de “pódio
antropocêntrico”, julgando que por ser dotado de racionalidade se poderia
superiorizar à natureza, controlando-as ou desrespeitando as suas leis e
considerando-se um semi-deus sobre todas as espécies , dispondo delas a seu
belo prazer.
Por vezes basta um evento natural
(um furacão, um tornado, um terramoto, etc.) para Deus fazer recordar e reduzir
o ser humano à sua verdadeira posição no mundo, relegando-o à fragilidade de
animal que é.
Por isso, julgar que o voluntariado com
animais é menos digno que com humanos, assenta na irracionalidade de considerar
que estamos acima das outras espécies e da própria natureza, ao mesmo tempo que
se despe a verdadeira humanidade para com o próximo.
Se os humanos são seres
racionais e dotados e moralidade e ética, porque tem atitudes que me parecem
desprovidas de qualquer racionalidade para com os animais e com a natureza? Não
são os seres-humanos que abandonam, maltratam, ferem, aprisionam, abandonam e deixamos morrer à fome tantos milhares de
animais por ano?
CADEP-CN-Dog Trekking com animais do CAMAC |
Os animais tem sido grandes
vítimas às mãos de seres humanos cruéis que envergonham a espécie humana, não
sendo entendível que haja pessoas que “racionalmente” critiquem quem queira
contrariar essas barbaridades e defender vidas quem não dispõe de voz nem de
meios para o fazerem, por si próprios.
Os animais são vidas e criaturas de Deus como
nós, por isso não me podem dizer que merecem menos ou não merecem de todo que
alguém se dedique a ajudar de forma voluntária aqueles que o próprio ser humano
mal tratou ou abandonou.
Acredito que quanto mais damos em
prol das vidas mais fragilizadas que nos rodeiam, quer sejam pessoas ou
animais, mais humanos nos tornamos e mais revelamos a nossa humanidade. Diria
mesmo que é um dever de cidadania, de ética humana e de prática cristã, para
quem segue verdadeiramente a Palavra Bíblica, na qual Deus releva os animais
como suas criaturas o dever do Homem
para com eles.
“Todos os animais pertencem a Deus.” (Salmo 24:1).
“O homem bom cuida dos seus animais, mas os homens ímpios são cruéis para
com eles . " Provérbios 12:10
Esta é a verdadeira essência do voluntário. É
a capacidade de nos despojarmos do nosso próprio eu em prol dos seres que
amamos, que sentem e sofrem como nós e que tem os mesmos direitos ao bem-estar
e a viver de forma digna.
Ser voluntário é dar sem esperar
nada em troca, esse nada que é tudo, porque a recompensa é tão grande quando
vemos que conseguimos dar a outro ser vivente a felicidade, uma vida melhor, um
olhar de gratidão e de comunhão, de paz, de amizade sincera sem esperar
retorno. Tudo isso tenho visto e recebido de algumas pessoas, mas sempre dos
animais, os quais tento ajudar da melhor forma que posso e sei.
Por isso, o que importa é servir uma causa
nobre, seja ela qual for, onde quer que haja vidas a precisar! É essa a
verdadeira “racionalidade” e “humanidade” do ser humano!
Os meus agradecimentos a todas as
crianças e jovens marienses que praticam voluntariado com o CADEP-CN, no CAMAC
de Vila do Porto (e alguns adultos de per si) nos Dog Trekking’s semanais, nos
banhos, nas feiras de adoção e na angariação de rações, toalhas e cobertores,
tendo-se disponibilizado, ainda esta semana, a Carla Paiva e a Beatriz Barrôco,
o que muito enaltecemos.
José Andrade Melo,
CADEP-CN e Amigos dos Açores, Sta Maria
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