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27 de abril de 2014

DRÁSTICAS PODAS

Por Diogo Caetano
sdcaetano@gmail.com

Foto: José Melo
As árvores que compõem as praças, estradas e avenidas e embelezam os jardins e parques são um elemento essencial de qualidade de vida. E, no entanto, é crítica a ausência de sensibilidade das autoridades e, muitas das vezes, das comunidades para o papel da Árvore em Meio Urbano.

Com a primavera chegam os cagarros, mas também as podas drásticas, que retiram a dignidade e o valor estético às árvores, tantas vezes ditas ornamentais, que marginam os arruamentos e estradas.
Estas podas drásticas ou radicais são comummente justificadas com base em preconceitos que continuam interiorizados na população, que muitas vezes as exige quando os responsáveis pela sua gestão e manutenção optam por outros modelos de condução. Embora erroneamente persistem mitos de que as podas drásticas ou “rolagens” rejuvenescem e fortalecem as árvores, ou que são a única forma económica de controlar a sua altura e perigosidade.

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Francisco Coimbra, Ex - Vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Arboricultura, ajuda a desmitificar 5 concepções erradas acerca das podas drásticas ou “rolagens”.
A poda drástica rejuvenesce a árvore? – NÃO! São as folhas a “fábrica” que produz o seu alimento. Uma poda que remova mais do que um terço dos ramos da árvore – e as “podas” radicais removem a copa na totalidade – interfere muito com a sua capacidade de se auto-alimentar, desregulando o equilíbrio copa/tronco/raízes. O facto de as árvores apresentarem uma rebentação intensa após uma operação traumática – resultante do abrolhamento de gemas até então inibidas pelo controlo hormonal dos ápices agora removidos – não significa rejuvenescimento, mas sim uma “tentativa desesperada” de repor a copa inicial, à custa da delapidação das suas reservas energéticas. Nalguns casos, este “esforço” pode mesmo ser fatal, se à supressão de copa se somarem outros factores de stress, como um Verão seco ou ataques de parasitas.

A poda drástica fortalece a árvore? NÃO, pelo contrário, a poda radical é um acto traumatizante e debilitante, uma porta aberta às patologias. As pernadas duma árvore massacrada têm, pelo seu grande diâmetro, dificuldade em formar calo de “cicatrização”, e os cortes nestas condições são muito vulneráveis a ataques de fungos lenhívoros. Para além disso, a copa das árvores funciona como um todo, sendo as folhas periféricas um escudo para a parte mais interna, protegendo-a das queimaduras solares. O nosso país está cheio de tristes exemplos, árvores cujo estado sanitário decadente é o revoltante resultado destas práticas no passado, as quais deviam envergonhar os seus mandantes!

A poda drástica torna a árvores menos perigosas? – NÃO, estas “podas” induzem a formação, nas zonas de corte, de rebentos de grande fragilidade mecânica, pois têm uma inserção anormal e superficial no tronco. Como ao longo do tempo se desenvolvem podridões nesses locais, esta ligação fica ainda mais fraca, tornando estes ramos instáveis e potencialmente perigosos a longo prazo. Acresce ainda que nem todas as novas ramificações são viáveis, pelo que, após alguns anos de concorrência, surgem relações de dominância entre elas e as dominadas acabam por secar, aumentando o volume de madeira morta na copa.

A poda drástica é a única forma de a controlar em altura? – NÃO, a quebra da hierarquia – que estava estabelecida entre as ramificações naturalmente formadas – permite o desenvolvimento de novos ramos de forte crescimento vertical, mas agora de uma forma anárquica e muito mais densa! Não se resolve, assim, o motivo por que geralmente se recorre a esta supressão da copa, pois em alguns anos a árvore retoma a altura que tinha, sem nunca mais voltar a ter a mesma estabilidade nem a beleza característica da espécie.

A poda drástica é mais barata? – NÃO, se a gestão do património arbóreo for pensada a médio e longo prazo! Aparentemente parece ser mais económico recorrer-se a uma “rolagem” única do que fazer pequenas intervenções anuais e utilizar os princípios correctos de poda e corte, investindo na formação do pessoal ou recorrendo a profissionais especializados nas situações mais complexas. No entanto, esta economia é de curto prazo, pois se por um lado as árvores se desvalorizam a todos os níveis, por outro lado está-se a onerar o futuro, que terá que “remediar” uma decrepitude precoce ou resolver a instabilidade mecânica dos rebentos formados após os cortes. E a redução da esperança de vida das árvores implementa custos acrescidos para sua remoção e substituição.


Na primavera que passa, recomenda-se a muitos dos nossos responsáveis pelas nossas autoridades alguma bibliografia sobre o tema, nomeadamente: Drénou, C. 1999. La taille des arbres d’ornement. I.D.F., Paris, 268 p. e Shigo, A. 1994. Arboricultura moderna. Edição portuguesa publicada pela Sociedade Portuguesa de Arboricultura, 165 p.

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