Bem vindo(a) ao NaturMariense

Convidamo-lo(a) a ler, participar e juntar-se às causas defendidas pelo CADEP-CN e pelos Amigos dos Açores, em Santa Maria.

Escreva, dê ideias e denuncie situações: cadep.cn@gmail.com ou santamaria@amigosdosacores.pt


20 de fevereiro de 2017

O “TRAIL RUNNING”, SEUS VALORES E EXIGÊNCIAS


“TRAIL RUNNING”:  DUREZA, ÉTICA, PRAZER
   E RESPEITO PELA NATUREZA
--
  ALIA DESPORTO, AMBIENTE, PATRIMÓNIO E TURISMO
-
O Trail running (corrida pedestre em trilhos) é uma modalidade desportiva que alia desporto,  fruição da natureza e património de forma muito intrincada, tal como o Pedestrianismo, diferenciando-se deste por incluir a corrida e a competição.
 
-
São “Corridas Pedestres na Natureza”, tradução do inglês Trail Runnig devendo ter um mínimo de percurso pavimentado/ alcatroado que não deverá exceder 10% do percurso total, em vários ambientes (serra, montanha, planície, litoral, etc), idealmente em semi ou auto-suficiência, mas não obrigatoriamente, a realizar de dia e/ou durante a noite, em percursos devidamente balizados e marcados. 
 -
A modalidade está atualmente na moda,  encontrando-se em franco crescimento no mundo inteiro e também em Portugal, principalmente desde 2010,  tendo chegado aos Açores há cerca de quatro anos, começando pelas “Ilhas do “Triângulo”, depois S.Miguel, tendo-se estendido a Santa Maria, o ano passado, comprovando a ilha ter excelentes potencialidades para a sua prática, a ajuizar pelo sucesso da “Colombus Trail Run”-2016. 
-
O Trail running é um tipo de corrida muito diferente das corridas normais de estrada, e do corta-mato tradicional! Os percursos por onde são realizadas as provas de Trail running incluem trilhos muito técnicos que na sua larga maioria só são acessíveis a pé, por trilhos, onde normalmente se pratica o Pedestrianismo, como acontece em Santa Maria, cuja Grande Rota, se traduziu, praticamente, na ligação efetuada dos PR´s (Percursos Pedestes de Pequena Rota) já existentes. 
-
 As cambiantes/desafios a vencer na natureza contemplam zonas montanhosas com lama e grandes declives, subidas de ribeiras  com fundos rochosos, trepar rochas, saltos sobre pedras, entre outros tipos de piso e desafios em terrenos muito irregulares.  Este tipo de provas é essencialmente realizado em lugares com natureza prodigiosa, mas lguns já as urbanizaram, fazendo-as também dentro das cidades, quer de dia quer de noite, “urbanização” essa que desvirtua, em nossa opinião, a essência do “Trail Run”, pelo divórcio que cria entre os “runner´s” e o ambiente natural, o qual esteve na origem da criação da modalidade e constitui (deverá sempre constituir) a genuína “infra-estrutura” da sua prática. 
-
NATUREZA COMO ALIADA E “ADVERSÁRIA 
-
Para um verdadeiro “runner” a natureza é a principal fonte de atração e de inspiração para a modalidade e na sua prática, mas os seus cambiantes e obstáculos a transpôr/vencer também são os principais “adversários”. Como constatamos no ano passado no acompanhamento que fizemos ao nossos atletas do “Núcleo de Pedestrianismo, Ambiente e Trail Run” do Gonçalo Velho, por vezes, os percursos são tão técnicos, duros e declivosos que vão das rochas do litoral até aos pontos mais altos das elevações (montes), passando por terrenos e declives/desníveis tão acentuados que os atletas não conseguem correr, sendo obrigados a caminhar a passo, colocando um misto de Pedestrianismo nas provas.
-
São extremamente exigentes quer física quer pricologicamente, exigindo-se aos atletas formaçao adequada nesses níveis, assim como uma necessária sensibilidade e educação ambiental, para respeitar a natureza e beber dê-la a fonte de inspiração e de recuperação de forças.
-
Como se viu na “Colombus Trail Run-2016 e exigem as organizações,  para suportar a dureza destas provas, os atletas levam uma mochila especial com água e suplementos alimentares para repor energia durante os percursos, assim como outros acessórios que normalmente são ou poderão ser precisos nalgumas situações,  tais como GPS, frontal, manta térmica e bastões para ajudar nas partes mais duras da prova.  
-
Pondo-me no corpo e dando voz aos vários atletas que acompanhei na “Colombus Trail Run” do ano passado, durante cerca de 10 horas, e na decorrência de várias conversas com outros  participantes mais experientes e “alfabetizados” no Trail running, qualquer um deles poderia dizer o seguinte: 
-
 “Nas provas de trail run, perante as belezas e as dificuldades, ficamos ora extasiados ora pequeninos e humildes às mãos da beleza e do feitio/obstáculos da mãe natureza. Da natureza que nos inspira e nos dificulta a progressão, confronta-nos com a nossa própria natureza, nossos receios e forças, assim como com a nossa cómoda/irrefletida posição dominante e agressora sobre meio ambiente onde nascemos e que nos suporta a vida, o qual, de forma responsável,  devemos apreciar,  respeitar e usar de forma sustentável. 
-
São lutas constantes com tudo. O terreno, o trilho que teima em não nos facilitar a corrida, as cãibras, as dores musculares e traumáticas das várias quedas, o pó ou a lama, os arranhões, os picos nas mãos, as bolhas nos pés… Não há prova que não termine sem trazer um pouco do percurso marcado no corpo, mas também a beleza altamente compensadora da grandeza do patrimóniio natural e cultural gravada na mente e na alma.” 
-
 Nas várias prova que fizemos de Trail run, não há uma onde não se pare hesitantes perante um qualquer obstáculo que transpusemos e se diga baixinho para dentro de nós: “Soberbo espectáculo! Dói mas compensa, pela natureza e pelo companheirismo!”  
-
ALFABETIZAÇÃO DESPORTIVO/AMBIENTAL E O COMPANHEIRISMO/SOLIDARIEDADE 
-
O Trail running é caracterizado pela competição saudável, com um desportivismo e solidariedasde que só o Pesdestrianismo e este tipo de provas na natureza tem. Pelas suas características de “Desporto de Natureza” é apanágio desta modalidade  o vincar do respeito pelo ambiente, visto que a maioria das provas são feitas no litoral marinho,  montes e vales, proporcionando também aos atletas o privilégio de fruirem de magníficas e singulares paisagens, como aconteceu em Santa Maria, deleitando os participantes. 
-
O som do mar,  das ribeiras, dos pássaros e das passadas é o que ouvem os runner´s quando correm. Não, não é apenas correr. É mais do que isso. O Trail running, pelo que já conheci, em termos de ambiente humano e relação necessária com a natureza,  é também um “estado de espírito”, com vincada “introsepção” nos largos tempos em que os atletas estão a sós com a mãe natureza.
-
Outra componente do Trail running que mais me marcou, no acompanhamento dos nossos atletas do “Núcleo de Pedestrianismo, Ambiente e Trail Run” do Gonçalo Velho e do convívio e observação de outros, foi o companheirismo e a solidariedade entre aqueles que já estão mais alfabetizados na sua prática e já se inteiraram do seu espírito. O ambiente humano e espírito que envolve os amantes do Trail Run é de veras transcendente, como se todos pertencessem à mesma equipa.   
-
No pelotão da partida e no decorrer das provas eles partilham experiências, dão conselhos aos menos experientes,  se ajudam, se incentivam e apoiam. Foi com alegria ver muitos dos primeiros a apoiar os últimos nas metas das provas em Sta Bárbara e no Forte de S.Brás mesmo com uma diferença de algumas horas nas chegadas. Fazem-no porque todos enfrentaram os mesmo desafios, passaram pelas mesmas dificuldades e sabem o quanto é doído. Tal como diz o amigo e Diretor da Colombus Trail Run, Mário Leal:
-
 “Quem não estiver preparado para sofrer não se dá bem com o Trail running”.
-
É escusado queixarem-se deste ou daquele organizador ou deste ou daquele troço, porque todas as provas são duras e difíceis, mas para o “verdadeiro runner”, se as provas forem fáceis demais, ralas de obstáculos e sem belas riquezas naturais, normalmente, não as repete e as desaconselha a outros.   
-
 Posso concluir que os  melhores momentos do Trail Run são mesmo os mais humanos, os de deslumbramento perante a força da natureza e a alegria dos desafios vencidos.  E essa força, no Trail, são os atletas, quando devidamente “alfabetizados”  em respeito pela ética desportiva, lealdade, solidariedade  e pela natureza, devendo só deixar nela a marca dos seus pés e unicamente levar as belas fotos e vídeos que registam, para recordar e promover ambiental e turisticamente as lindas terras como Santa Maria, como aconteceu no ano passado e vai acontecer na Colombus Trail Run-2017. Visando essa “alfabetização” tão necessária e aperfeiçoamento técnico-desportivo específico, o “Núcleo de Pedestrianismo, Ambiente e Trail Run” do Gonçalo Velho, em conjunto com a Câmara Municipal vão realizar, ainda este mês fevereiro, uma formação direcionada a todos os atletas de Sta Maria, com o técnico e professor Paulo Pires e o Diretor da “Colombus Trail Run”,  Mário Leal.
 
-
A  VERTENTE TURÍSTICO-ECONÓMICA DO TRAIL RUN 
-
Tal como o Pedestrianismo, o Trail running  incorpora a aliança entre o desporto, a fruição do ambiente e apreciação do património e, de forma multiplicadora, a vertente turística, pela chamada de praticantes e seus acompanhantes aos locais mais apetecíveis para a pratica da modalidade, como os Açores, decorrendo daí benefícios económicos evidentes para as economias locais, sendo exemplo disso a prova mariense “Colombus Trail Run”, cuja 2ª Edição vai acontecer no dia 25 deste mês, contando-se com mais de uma centena de atletas.
 
-
Sobre importância eco-turística e económica do ‘Trail Run’ para os Açores, transcrevo abaixo as declarações do Secretário do Turisno, na cerimónia da “Colombus Trail Run”, as quais subscrevo totalmente.
-
 
  “ São eventos marcantes para a  promoção dos Açores, salientando a divulgação que permitem das paisagens da Região como cenários de competição e, simultaneamente, como produto turístico de lazer, através dos trilhos.
 
 Está provado que a visibilidade deste tipo de eventos, que tiram partido dos nossos recursos naturais e potenciam o desenvolvimento sustentável, associando as vertentes ambiental. lúdica e competitiva, contribui eficazmente para atrair praticantes deste tipo de desportos, mas também um nicho de mercado de turistas que privilegiam o contacto ativo com a natureza.  
-
Nesse sentido, também destacou a importância do Pedestrianismo como produto de ano inteiro e transversal a todas ilhas, recordando que existem actualmente no arquipélago 80 trilhos homologados, com uma extensão total superior a 716 quilómetros.” 
-
Que todos os valores acima expostos, sejam sempre a tónica marcante da “Colombus Trail Run”, cuja 2º Edicão vai acontecer no dia 25 de fevereiro, estando convicto de que a prova se cimentará como um dos maiores eventos desportivos e de atração/animação turística de Santa Maria. 
-
* José Andrade Melo
-
  Ambientalista e formador superior de Educação Ambiental 
  Coordenador do “Núcleo de Pedestrianismo, Ambiente e Trail Run” do Gonçalo Velho
-
  eco.melo@gmail.com

Sem comentários: