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29 de novembro de 2011

ALERTA SOBRE AS PODAS: “AS ÁRVORES SÃO MUITO MAIS DO QUE TRONCOS”

= VENCER O MITO DAS PODAS RADICAIS = 
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Já muita coisa mudou com os tempos, mas desde longos anos e, ainda se mantém atual nos manuais escolares recentes, a elencagem das partes constitutivas de uma árvore como sendo a raiz (como parte não visível), e como partes visíveis, o tronco, as pernadas ou ramos, as folhas, e as flores e frutos, na época própria. 
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Infelizmente, com estranheza e tristeza, verificam-se por aí situações que deturpam totalmente a noção do que é uma árvore, contrarindo a sua natureza e estética, reduzindo-as a simples troncos, na decorrência de podas, que o único critério que  parece ser seguido é o tamanho da escada de serviço. 
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Não pomos em causa a ocorrência das podas, algumas delas exigidas por razões de segurança de habitaçoes e de circulação de veículos altos, e noutros casos por necessidade de revitalização da própria planta. Mas há lugares onde esses motivos de "força maior" não se verificaram, e belas e imponentes árvores quase e mesmo seculares como alguns carvalhos do Ramal - Santa Bárbara, foram reduzidos a “pavios”, já tendo alguns morrido e estando outros a  definhar. 
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Felizmente que dispomos de bons técnicos florestais, não sendo comprensível que não se recorra aos mesmos no acompanhamento das podas das árvores dos jardins e estradas. Deste modo, se garantiria que as árvores ficassem com algumas pernadas além do troncos, e seria respeitada a sua fisiologia vegetal, salvaguardando-se a sua estética e, fundamentalmente, a sua longevidade, porque a ideia de que as “podas radicais”, revitalizam e perpetuam a vida das árvores é um “mito” que abaixo vai ser esclarecido neste artigo.
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Que o Ano Internacional da Floresta, quase a findar, também sirva para esta mudança de mentalidade e de atitude para acabar com alguns autênticos “massacres de motosserra” que destituem de dignidade e valor estético as árvores – ditas ornamentais – que marginam os nossos arruamentos e estradas. 
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“O MITO DAS PODAS RADICAIS” 

As “podas radicais” são bastas vezes justificadas com base em preconceitos que continuam arreigados e muitas pessoas, e infelizmente por alguns serviços responsáveis pela sua gestão e manutenção das àrvores em espaços públicos. Assim, temos ouvido dizer, como justificação, que estas “rolagens” rejuvenescem e fortalecem as árvores, ou que são a única forma económica de controlar a sua altura e perigosidade... Será isto verdade? 

Através de algumas pesquisas, propomos que se esclareça pública e científicamente essas interrogações e “convições míticas”.  

1. A poda drástica rejuvenesce a árvore? – NÃO! São as folhas a “fábrica” que produz o seu alimento. Uma poda que remova mais do que um terço dos ramos da árvore – e as “podas” radicais removem a copa na totalidade – interfere muito com a sua capacidade de se auto-alimentar, desregulando o equilíbrio copa/tronco/raízes. O facto das árvores apresentarem uma rebentação intensa após uma operação traumática – resultante do abrolhamento de gemas até então inibidas pelo controlo hormonal dos ápices agora removidos – não significa rejuvenescimento, mas sim uma “tentativa desesperada” de repor a copa inicial, à custa da delapidação das suas reservas energéticas. Nalguns casos este “esforço” pode mesmo ser fatal, se à supressão de copa se somarem outros fatores de stress, como um Verão seco ou ataques de parasitas...  

2. Fortalece-a? – NÃO, pelo contrário, a poda radical é um ato traumatizante e debilitante, uma porta aberta às patologias. As pernadas duma árvore massacrada têm, pelo seu grande diâmetro, dificuldade em formar calo de “cicatrização”, e os cortes nestas condições são muito vulneráveis a ataques de fungos lenhívoros. Para além disso, a copa das árvores funciona como um todo, sendo as folhas periféricas um escudo para a parte mais interna, protegendo-a das queimaduras solares. O nosso país está cheio de tristes exemplos, árvores cujo estado sanitário decadente é o revoltante resultado destas práticas no passado, as quais deviam envergonhar os seus mandantes!  

3. Torna-a menos perigosa? – NÃO, estas “podas” induzem a formação, nas zonas de corte, de rebentos epicórmicos de grande fragilidade mecânica, pois têm uma inserção anormal e superficial no tronco. Como, ao longo do tempo, se desenvolvem podridões nesses locais, esta ligação fica ainda mais fraca, tornando estes ramos instáveis e potencialmente perigosos a longo prazo. Acresce ainda que nem todas as novas ramificações são viáveis, pelo que, após alguns anos de concorrência, surgem relações de dominância entre elas e as dominadas acabam por secar, aumentando o volume de madeira morta na copa.  

4. É a única forma de a controlar em altura? – NÃO, a quebra da hierarquia – que estava estabelecida entre as ramificações naturalmente formadas – permite o desenvolvimento de novos ramos de forte crescimento vertical, mas agora de uma forma anárquica e muito mais densa! Não se resolve, assim, o motivo por que geralmente se recorre a esta supressão da copa, pois em alguns anos a árvore retoma a altura que tinha, sem nunca mais voltar a ter a mesma estabilidade nem a beleza característica da espécie...  

5. É mais barata? – NÃO, se a gestão do património arbóreo for pensada a médio e longo prazo! Aparentemente parece ser mais económico recorrer-se a uma “rolagem” única do que fazer pequenas intervenções anuais e utilizar os princípios correctos de poda e corte, investindo na formação do pessoal ou recorrendo a profissionais especializados nas situações mais complexas. No entanto, esta economia é de curto prazo, pois, se por um lado as árvores se desvalorizam a todos os níveis, por outro lado está-se a onerar o futuro, que terá que “remediar” uma decrepitude precoce ou resolver a instabilidade mecânica dos rebentos formados após os cortes. E a redução da esperança de vida das árvores implementa custos acrescidos para sua remoção e substituição... 

Acerca destas “ideias feitas”, responsáveis por tantos atentados à beleza, saúde e dignidade dos exemplares arbóreos das nossas urbes, já dizia o Eng.º Vieira da Natividade: “o podador domina porque enfraquece, vence porque suprime... em boa verdade a vitória não é brilhante”!  

"E de fato, devia dizer-se de uma poda o mesmo que de um árbitro, - tanto melhor quanto menos se der por eles!"

* José Andrade Melo

   CADEP-CN e Amigos dos Açores, Sta Maria
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Fontes de citação e consulta:

 - Texto de esclarecimento: Eng.ro Francisco Coimbra
Consultor em Arboricultura Ornamental
 Ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Arboricultura 

- Shigo, A. 1994. Arboricultura moderna. Edição portuguesa publicada pela Sociedade Portuguesa de Arboricultura.

1 comentário:

sandra Braga disse...

A falta de sensibilidade e de responsabilidade é uma tristeza:((

Que dirão os turistas que nos visitam ao verem árvores antigas,que levaram anos e anos a crescer, desgarradas de ramos e até de folhas.

Nesta região considerada de ecológica, ainda há muito para evoluir, e a educação ambiental deverá começar dentro dos serviços.

Gosto muito deste blog pela defesa e amor que mostra ter pelos animais, mas também dou os parabésns pela defesa que faz do património e das plantas, que também são vida.