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11 de novembro de 2013

CAMPANHA SOS-CAGARRO-2013 EM STA MARIA:-RAZÕES E AÇÕES DO PROJETO

AÇÕES DO CADEP-CN E AMIGOS DOS AÇORES STA MARIA
E O PORQUÊ DESTA CAMPANHA
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Cagarro resgatado por alunos do CADEP-CN, 994
O CADEP-CN (Clube dos Amigos e Defensores do Património-Cultural e Natural de Sta Maria), criado em 1991 na Escola Sol Nascente-Sta Bárbara e sócio coletivo dos Amigos dos Açores, desde 1992, iniciou o salvamento de cagarros em Sta Maria em 1994, com o apoio de fundo daquele Associação Ecológica e incentivado pelo Engenheiro Luís Monteiro, no decorrer de um encontro tido em P.Delgada, em 1993, sobre “Aves Marinhas Migratórias”, para a qual fui convidado pelo histórico ambientalista Veríssimo Borges. 
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Durante 15 anos (1994-2005), ininterruptamente, o CADEP-CN, sempre em estreita ligação com os Amigos dos Açores, fez brigadas  de salvamentos de cagarros, praticamente sozinho, até que, a partir de 2006, os Serviços de Ambiente da ilha, passaram a  fazer a coordenação “ofical” da Campanha SOS-Cagarro, contando sempre connosco, como parceiros. 
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Exposição do CADEP-CN na Escola de Almagreira
Na Campanha de 2013, O CADEP-CN e Amigos dos Açores Sta Maria (AA), de entre as suas ações planeadas, patenteiam uma exposição sobre o Cagarro na Escola de Almagreira e ações de sensibilização aos alunos e docentes;  distribuição de desdobráveis com informações sobre a ecologia da ave; afixação de  cartazes com menção “Este Ano Salve um Cagarro”; apresentação da nova T Shirt dos AA que expõe os procedimentos de salvamento, a qual será sempre envergada pelos participantes nas brigadas noturnas de resgate das aves e nas largadas.

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No âmbito da parceria do CADEP-CN com o PNI-SMA, haverá sessões demonstrativas de anilhagens de cagarros com a presença/participação de crianças e jovens, assim como a coordenação comum de algumas brigadas noturnas  e largadas.

Tal como nos anos anteriores, os Amigos dos Açores dispuseram uma Grelha Pública para o registo online dos cagarros resgatados nas as brigadas e pela população em geral, dispondo à data da escrita deste artigo (4 de novembro), já com 78 salvamentos. 
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O PORQUÊ DA CAMPANHA SOS-CAGARRO 
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Os cagarros aves marinhas extraordinárias, adaptadas para a vida no alto mar. Só vêm a terra para nidificar. Juntam-se em colónias situadas nas falésias costeiras e ilhéus, que chegam a reunir centenas de indivíduos. Ao largo da costa estes bandos formam o que se chama jangadas. Os cagarros são fiéis à ilha onde nasceram, à colônia e ao casal. Os seus cantos noturnos são muito peculiares. É uma das aves mais antigas que existe à superfície da terra, com cerca de 30 milhões de anos. 
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Na ilha de Santa Maria, os seus habitantes têm como alcunha o nome desta curiosa ave, e existe uma expressão muito interessante, que dita depressa, constitui uma boa imitação do seu canto "eu t´agarro, eu t´agarro, eu t´agarro; eu caio, eu caio, eu caio".  
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Cortejo de sensibilização SOS-Cagarro, em 2004
Os Açores são a região no mundo com maior abundância de cagarros da subespécie Calonectris diomedea borealis, aproximadamente 188 000 casais, o equivalente a cerca de 75% da sua população mundial, daí a responsabilidade acrescida dos açorianos na proteção desta ave. Esta subespécie de cagarro ocorre apenas no Atlântico Norte (Portugal Continental, Açores, Madeira e Canárias), e por ser muito vulnerável à degradação do habitat natural, esta ave está em regressão a nível planetário, sendo muito importante garantir a sua proteção para manter a sua sobrevivência. 
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Apesar dos Açores possuírem a maior população mundial da subespécie Calonectris diomedea borealis, esta é considerada em estado de conservação desfavorável, tendo vindo a decrescer nas últimas décadas, daí ser uma ave protegida por leis nacionais e internacionais.  Se tivermos em conta censos anteriores, houve um declínio de 50% do efetivo populacional regional em apenas 5 anos.
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De entre as várias ameaças que fazem perigar a conservação desta espécie, destacam-se as seguintes: 
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  -a destruição do habitat de nidificação, através da introdução de plantas e animais exóticos, do crescimento urbano e da rede de estradas litorais;
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 -a unipostura, ou seja uma única postura anual só com um ovo;
 -a captura e morte de adultos e crias para obtenção de isco, para alimentação ou por vandalismo;
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  -a elevada mortalidade, na época do Outono, associada ao atropelamento e colisão de cagarros juvenis em estradas e localidades costeiras, motivados por encadeamentos.
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Salvamento de cagarros em 2013
 Embora todas as ameaças elencadas tenham de merecer, transversalmente, a atenção das entidades públicas e da população, a incidência da Campanha SOS-Cagarro, foca-se centralmente no combate às últimas duas, exigindo uma grande sensibilização e voluntariado das pessoas e o reforço de vigilância e fiscalização das autoridades militarizadas como  a PSP, Polícia Marítima, e GNR, através da brigada SEPNA, devendo todos nós colaborar com elas, na denúncia de situações ilícitas. 
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As mensagens e informações que se transmitem no âmbito da Campanha SOS-CAGARRO, através das associações de ambiente, escolas, escuteiros, Parque Natural de Ilha, e da comunicação social,   visam essencialmente, provocar mudança de atitudes e o despertar de sensibilidades, levando à compreensão das pessoas a razão da preservação das espécies de forma refletida , consciencializada e sentida como responsabilidade individual e coletiva.
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Sem a ajuda de campanhas de salvamento de cagarros, a taxa de mortalidade de indivíduos vítimas de queda,  seria muito próxima dos 100%, pois a tendência quando caem é de se esconderem em locais escuros, levando-os à morte por hipotermia, fome, predação e atropelamentos. Em especial no período de15 de outubro-15 de novembro, durante o qual os juvenis normalmente iniciam o primeiro voo em direção ao mar, há que tomar algumas medidas simples como sejam: desligar ou reduzir a iluminação pública nas zonas mais suscetíveis de queda (zonas balneares), desligar ou reduzir a intensidade luminosa nos campos de jogos, recorrendo se necessário a escudos que impeçam que as luzes sejam direcionadas para cima e aumentar a eficiência das brigadas de salvamento de aves acidentados nas áreas junto ao mar, como Anjos, Maia, S.Lourenço e Praia Formosa.
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Para se avaliar a importância crucial da Campanha, sublinhe-se que, tendo em conta os salvamentos que têm sido efetuados e os censos populacionais disponibilizados, se ela não acontecesse, a população mundial da espécie até ao final do século, seria reduzida de 75% a 80%.
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É uma Campanha puramente cívica e pedagógica, que levam as pessoas a sentir prazer, e a aumentarem a sua consciência cívico/ecológica, depois de compreenderem os valores ambientais e de solidariedade  que lhe estão subjacentes, e de agirem em consonância com eles.  
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Os dezanove anos de Campanha SOS-Cagarro, em Sta Maria, tem vindo a ter resultados muito positivos, e uma onda crescente, em termos de sensibilização ambiental e ações cívicas no terreno.  Mas para aquelas pessoas mais fechadas às mensagens pedagógicas, e às atitudes civilizadas, e que são da estirpe de que "para aprender é preciso doer ", lembramos que o cagarro é uma espécie, que para além de estar protegida pela Directiva “Aves” e Convenção de Berna, está incluída no Anexo A-1 do DL 49/2005, pelo que, pelo alínea a) do n.º 1 do Artigo 11.º do mesmo DL a captura abate ou detenção desta ave é punida nos termos da alínea a) do n.º 2 do seu Artigo 22º com a  coima no valor de 125 € a 3740 €, a cada infrator. 
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Já lá vai o tempo em que para se ser tido como "bem educado" bastava ser obediente aos pais, ter boas maneiras à mesa, respeitar os mais velhos e dizer bom dia a toda a gente. Estas práticas continuam a ser de praxe obrigatória, mas, às mesmas, deverá acrescentar-se-lhes, relevantemente, o respeito pelos direitos dos animais e pelo ambiente, assim como a prática de condutas ecologicamente corretas. 
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 Só com boa educação social e ecológica, o cidadão se poderá considerar um ser humano integral e civilizado, à luz da sociedade hodierna. 
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Enfoco, ainda, que a Campanha SOS Cagarro se já se justificaria só pelo valor intrínseco da proteção da espécie, estas aves são muito úteis como bons indicadores de cardumes de peixe, pois alimentam-se em associações com golfinhos e atuns, sendo muitas vezes utilizados pelos pescadores para identificar a posição de cardumes de atum. Embora muito desajeitadas em terra, são aves muito ágeis em voo, planando rente às vagas do mar de forma a reduzir o atrito e aproveitar a energia do movimento das águas.
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Como mensagem final  relevo que: 
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“Seria importante que a excelente “onda positiva” de responsabilidade ecológica e de civilidade mostrada na Campanha  SOS.CAGARRO, não se cingisse só à unidirecionalidade da espécie, impulsionada por uma mediatização temporal (15 Out. – 15 Nov.) mas que fosse extrapolada para a observância e prática atitudinal do bem-estar de todos os animais em geral, durante todo o ano, fazendo crescer uma massa crítica e ações cívicas, que condenem e denunciem os maus-tratos.” 
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 * José Andrade Melo
   Coordenador do CADEP-CN
   Representante dos Amigos dos Açores Sta Maria

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