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30 de setembro de 2018

OS FORNOS E A EXPLORAÇÃO DA CAL EM SANTA MARIA

OS FORNOS E A EXPLORAÇÃO DA CAL
NA ILHA DE ANTA MARIA
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-As figuras centrais e extremas do "cabouqueiro" e do "caiador"
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Os FORNOS DE CAL de Santa Maria são marcos físicos e patrimoniais de uma atividade multi-secular, mas que veio a diminuir de importância  partir dos finais da década de 60, inicio de 70, em consequência da chegada de cal à ilha, vinda do Continente,  a preços razoáveis e, posteriormente, com o aparecimento de outras soluções de tinturaria (pintura), mais duradouras e resistentes às intempéries, como a tinta plástica ou de água.
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Gruta da cal do Figueiral
 A extração do calcário para produção de cal destinada à “caiação” das casas de Sta Maria a “branco–alvo” , remonta provavelmente  ao início do séc. XVI. Já Gaspar Fructuoso (séc. XVI) escreveu, no Livro III das Saudades da Terra: “Na rocha dura, se tira pedra de que se faz muita cal na terra, a qual não há em nenhuma das outras ilhas dos Açores”.
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O calcário de Sta Maria, único nos Açores, resulta de formações sedimentares, resultando em rochas carbonatadas biocalcareníticas, incorporando milhões de fósseis marinhos que ascendem a cinco milhões de anos.
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 A exportação do calcário, para além do abastecimento local, constituiu também, a par do barro,  uma importante fonte de receita para o município, através da exportação para outras ilhas dos Açores. Assim se refere Gaspar Fructuoso à importância económica da cal e ao comércio da mesma. “ A ilha tem também pedra de cal, e vale a seiscentos réis o moio, pelo preço mais caro.”
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Manuel Leandres Bairos
 As zonas mais importantes onde se fazia a extração do calcário para produção da cal era na Ponta das Salinas, freguesia de Sto Espírito e no Lugar do Figueiral, na freguesia de Almagreira, existindo em ambos os locais magníficas furnas artificiais, advindas deste  exigente e perigoso labor humano. O “EXTRATOR DE CAL” (cabouqueiro) era a figura central no início do processo da exploração da cal, exigindo uma mestria e experiência afinadas,  na arte de  colocar, fazer penetrar na rocha e retirar as três barras de ferro de tamanhos diferentes, de forma sequenciada, até o bloco pretendido ser desprendido. O último extrator-orientador que conheci foi o meu tio Manuel Leandres Bairos, tendo ainda a oportunidade de assistir à sua laboração nas grutas do Figueiral, ao serviço do seu pai Antonino Jorge. 
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Depois de extraído o calcário, este era transportado às costas dos trabalhadores, nos seirões dos burros ou carros de bois (quando os caminhos já o permitiam), até aos FORNOS DE CAL. Ai, durante três dias e três noites ininterruptamente as pedras de calcário eram sujeitas a “cozimento”, com temperaturas a rondar os mil graus centígrados. Como havia muito consumo de combustível (madeira), os Fornos foram construídos sempre perto de matas, sendo essa a prioridade, ficando mesmo alguns deles muito afastados do local da extração da pedra.
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 Atualmente, conheço oito Fornos de Cal em Sta Maria. A saber:
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Forno de cal da Fonte do Mourato
 - Azenha de Baixo, Sto Espírito (Recuperado);
- Porto da Vila (Muito degradado),
- Figueiral, Almagreira (Necessita de urgente recuperação);
- Touril, Almagreira (Precisa de recuperação);
- Fonte do Mourato, Almagreira (Precisa de remover a adulteração);
- Graça, Almagreira (Em estado razoável, mas precisa de limpeza envolvente);
- Monteiro, Almagreira (Necessita de urgente recuperação),
- Farroupo, Almagreira (Necessita de urgente recuperação).
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José Anselmo
Os Fornos de Cal apresentam alguma semelhança com os fornos de Loiça e telha, mais antigos (ver o Forno de Loiça na R. dos Oleiros), mas nunca foram usados para o cozimento de peças de cerâmica, pois a estrutura interna dos segundos é bem diferente e  específica para a função, assim como a compleição externa de alguns mais recentes, que já apresentam formas cúbicas e chaminés.
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Depois do “cozimento” das pedras de calcário,   alguma da cal era peneirada, para quem a preferia comprar em pó e outra era vendida mesmo em pedra, que depois de “derregada” em água servia para caiar de alvo as belas casas rurais marienses. Nessa última tarefa técnica de aplicação da cal entrava em funções a figura do “CAIADOR”, utilizando como “pincéis” o bracéu-da-rocha (Festuca Petraea), em três tamanhos diferentes: pequeno para os beirais, médio para as vistas das casas e grande para o corpo ds habitação. O caiador mais duradouro e popular que conheci foi o Senhor José Anselmo, homem simpático, profundo conhecedor do seu ofício e bom contador de histórias, que trabalhava mais na parte Ocidental da ilha. Ele não tinha mãos a medir, principalmente nos dois, três meses antes da data as festas das paróquias, porque todos gostavam de apresentar as suas casinhas caiadinhas de branco, à passagem das procissões.
 
  • José Andrade Melo
         CADEP-CN de Sta Maria

 

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