RECUPERAÇÃO DE VEGETAÇÃO ENDÉMICA, CAMINHO ALTERNATIVO AO
BARREIRO DA FANECA E PLANO DE PROTEÇÃO DA ESTRELINHA-DE-SANTA MARIA
No passado dia 22
de abril, aquando da visita estatutária do GRA a Santa Maria o coodendaor do
CADEP-CN, reuniu com o Senhor Secretário Regional dos Recursos Naturais,
tendo-lhe apresentado um Memorando Ambiental com 12 situações.
Para tornar
públicas as questões defendidas e que urgem de resolução, O CADEP-CN vai
apresentá-las aqui no Baluarte, paulatinamente, em grupos de 2 ou 3 de cada
vez.
Depois das
questões 1, 2 e 3, já publicadas, abaixo, apresenta-se a Questão 4
incidente no tema da “Conservação da Natureza”, que inclui a reintrodução e
recuperação de vegetação endémica em vários locaia da ilha, a construção do caminho
alternativo ao Barreiro da Faneca e a continuidade/aprofundamento do Plano de
Proteção da Estrelinha-de-Santa Maria.
QUESTÃO
4 - CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
4.1 - CONTROLO/ERRADICAÇÃO
DE INFESTANTES E PROTEÇÃO DE VEGETAÇÃO PRIMITIVA E ENDÉMICA:
* BAÍA DE S.LOURENÇO
Concluída a obra de proteção e requalificação urbana do litoral de
S.Lourenço, o que nos congratulamos, consideramos importante, para valorização ambiental e atratividade
do lugar, que nos taludes onde foi semeada erva, seja priorizado o povoamento
por endémicas costeiras,
nomeadamente a Azorina Vidalli, a Festuca petraea, o Lotus
azoricus e a Euphorbia azorica.
* BARREIRO DA FANECA
Foto: José Melo |
Reiteramos a nossa congratulação
pela intervenção que foi efetuada na Paisagem Protegida do Barreiro da Faneca,
na decorrência do que temos vindo a defender há anos, para remoção de
infestantes, nomeadamente a Ulex
europeus (Pica-rato), que, ano-após-ano, estava a diminuir aquela
retumbância paisagística, única no Arquipélago.
Na sequência do trabalho apela-se
a uma contínua monitorização e controle, por forma a não retomar a situação
precedente.
Tendo a ex-SRAM aceitado a nossa sugestão, de efetuar a construção um
caminho alternativo para veículos motorizados, para permitir a ligação entre o
pilar e estrada dos Piquinhos, como necessidade imperiosa para uma protecção
eficaz deste espaço singular dos Açores, questionamos:
-- Estando já definido o
traçado do novo caminho, em que ponto está a contratualização com os
proprietários para a desafetação de terrenos e, para quando o arranque da obra?
-- Reiteramos a sugestão, apresentada na reunião do ano passado, da
abertura de pequenos trilhos entre a vegetação não intervencionada (alguns
caminhos antigos já existem) no sentido de permitir a visualização de
excelentes panorâmicas do litoral sobre a Baía da Cré, Baía do Raposo e Ilhéu
das Lagoinhas, alargando ganhos adicionais à fruição desta área protegida e
aumentando a sua atratividade e rendibilidade eco-turística.
*PICO ALTO
Foto: José Melo |
Sabendo-se que a Área Protegida
para a Gestão de Habitats ou Espécies do Pico Alto, é um dos habitat´s
importantes da endémica Estrelinha de Santa Maria e que, concomitantemente, se
trata da “ área mais valiosa dos Açores em termos de biodiversidade de
artrópodes do solo”, no dizer do investigador Paulo Borges, tendo
também aqui sido encontrados, pelo Doutor Frias Martins, vários moluscos
terrestres endémicos, sendo alguns novos para a ciência, congratulamo-nos
com o arranque dos trabalhos, embora só numa pequena área, da remoção de
infestantes e de recuparação da laurissilva, que, há muito defendemos;
- Em virtude da grande valia de suporte de
biodiversidade endémica, essencial à existência das riquezas biológicas aludidas,
recomendamos:
- Maior extensão da área de
intervenção e celeridade na realização dos trabalhos;
- Acompanhamento e orientação estreita das intervenções por parte por
especialistas experientes naquelas áreas, nomeadamente ornitólogos, botânicos e
os cientistas ligados aos gastrópodes e artrópodes acima referidos, sob pena de
se atentar contra os ecossistemas de suporte.
- Sendo o Pico Alto também o último reduto
de floresta laurissilva da ilha, onde é possível encontrar 15 espécies primitivas
e endémicas da flora açoriana, consideramos que para além do controle do Pittosporum undulatum (incenso), que
temos observado, deveria estender-se, na fase seguinte, ao corte e remoção
dos risomas do Hedychium gardneranum
(conteira), no cume (área à volta do miradouro).
* SIC DA PONTA DO CASTELO
Foto: José Melo |
- Em que ponto estão as
negociações com os proprietários do terrenos particulares, para se encetar a
retoma urgente do combate ao Carpobrotus
edulis e a Agave americana, no SIC (Sítio de Interesse Comunitário) da
Ponta do Castelo?
Recordamos que este SIC é o mais
rico habitat de vegetação endémica
costeira dos Açores, no dizer de Eduardo Dias --, estando aqui a “abafar,” liminarmente,
espécies endémicas raríssimas e protegidas como o Lotus azoricus, a Azorina vidalii
(as maiores manchas dos Açores
encontram-se lá) e outras como a Euphorbia
azorica, Spergulátia azorica e a Festuca petraea.
4.2 - CONSERVAÇÃO/RECUPERAÇÃO DE ESPÉCIES
ENDÉMICAS:
- Conservação da Euphorbia
stygiana santamariae
A Euphorbia stygiana
santamariae, exclusiva de Santa Maria (endémica), existe em
número muito reduzido, e só num local da ilha, estando enfocada como espécie
com prioridade de conservação, na obra “Flora Vascular dos Açores-Prioridades
de Conservação”, resultante de um projeto de investigação do Botânico Luís
Silva e outros da UAç, no âmbito do INTERREG III B – BIONATURA.
Sugerimos:
-Estudo aprofundado da taxonomia, biologia e
ecologia;
- Conservação do habitat (controlo de
exóticas e consideração de zona especial de conservação);
Último cedro-do-mato de Sta Maria (Foto: José Melo) |
- Propagação em viveiro (ex-situ) e salvaguarda em banco de
germoplasma.
- Recuperação do
cedro-do-mato:
Não obstante os registos históricos reportarem abundância do Juniperus
brevifolia , aquando ao povoamento de Santa Maria, atualmente, por
força das arroteias e utilização intensiva da espécie, só existe um único
exemplar registado na ilha.
No reforço da biodiversidade
da ilha, e por ser um elemento central da laurissilva açórica, sugerimos a reintrodução
do Cedro-do-mato, já no âmbito da recuperação do Pico Alto e em outros locais
considerados habitat´s adequados para a espécie.
4.3 – PLANO DE PROTEÇÃO DA
“ESTRELINHA DE SANTA MARIA” E DE RECUPERAÇÃO DO SEU HABITAT
A “Estrelinha-de-Santa Maria”, uma das subespécies Regulus regulus
dos Açores, só existe nesta ilha; é a ave mais pequena da Europa, e sofreu, uma
regressão significativa do seu efetivo nas duas últimas décadas, situando-se,
nesta altura, entre os 13 vertebrados mais ameaçados de Portugal e classificada
como “Criticamente em perigo” pelo ICN-B.
- Não tendo predação natural nem sendo espécie cinegética, tudo leva a
crer que, às semelhança do que aconteceu com o Priôlo, as causas da sua
regressão e estado de conservação desfavorável atual, está ligada à alteração/perturbação
do seu habitat natural e, consequentemente, redução de disponibilidade
de alimentos, sendo que o seu confinamento a determinados espaços de uma só
ilha, já é só por si, um fator de algum risco.
Face à situação exposta,
apresentada na reunião anterior com o Senhor ex-Secretário Regional dos
Assuntos dos Mar, foi com agrado que registamos a sua mostra de preocupação e
responsabilidade para com a situação gravosa aludida, aunciando o GRA, no
comunicado da visita estatutária de 2012, o avanço de medidas específicas, que
se querem integradas num plano mais vasto, para a
recuperação/conservação da Regulus r. Sanctaemariae.
Um vez que a Estrelinha-de-Santa
Maria, está ligada (entre outros espaços) ao habitat do Pico Alto e à
florestação limítrofe do Barreiro da Faneca, concordamos plenamante, na
associação que a ex-SRAM fez entre, a remoção de infestantes, a recuperação da
laurissilva e a conservação da Estrelinha SMA, com extenção sinérgica às
conservação de outras espécies faunísticas atinentes àquele ecossistema.
Sem dúvida que esta medida no
Pico Alto, assim como o desvio, prometido da perturbadora circulação de
veículos motorizados do Barreiro da Faneca serão importantes contributos, mas,
não suficientes.
No seguimento do compromisso da
ex-SRAM, na conservação da Estrelinha-de-santa maria, solicitamos à SRRN
a construção e seguimento de um projeto mais abrangente e integrado, baseado em
estudos e acompanhamento de especialidade, envolvendo transversalmente as áreas
do saber implicadas (ornitologia, botânica, entomologia...), e aproveitando-se
o sucesso da experiência tida com o priôlo.
Nesse desiderato propomos:
A candidatura de um Plano de
Conservação da Estrelinha-de-Santa Maria, ao Programa comunitário LIFE +, para
que de forma integrada e articulada contemple o seguinte:
- Investigação mais aprofundada,
no terreno, para apuramento minucioso do censo/inventariação da espécie na
ilha; confirmação de outros habitat´s favoráveis, além dos dois
aludidos; reconfirmações de hábitos alimentares e preferências de nidificação
(Aprofundamente/complemento do estudo recente de um jovem mariense e de outros
estudos);
- Definição de medidas
específicas, em base do diagnóstico inicial e noutros estudos e ações que os
especialistas considerarem pertinentes para o desiderato em causa
- Acompanhamento regular da
implementação das medidas, com monitorização de terreno e posterior avaliação
comparativa em relação à situação e partida;
- Concomitância de estudos
especializados de taxonomia, assente no cruzamento de dados biométricos,
bioacústicos e comparativos de variedades genéticas das Regulus regulus dos Açores.
Como ONGA proponente, deste plano
de conservação, disponibilizamo-nos para fazer acompanhamentos no terreno e
colaborar com os ornitólogos e outros técnicos que a SRRN vier a contratualizar
para os estudos necessários.
Igualmente, sugerimos
que do Projeto faça parte uma centralidade da ave no PNI, fazendo-a constar
destacadamente no espaço interpretativo e incluindo-a nas atividades do Parque e
ações da ecoteca, para o ano 2013, e subsequentes
* José Melo
Coordenador
do CADEP-CN*
*(Clube dos
Amigos e Defensores do Património-Cultural e Natural de Sta Maria)
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