“PEDESTRIANISMO E AMBIENTE DE MÃOS
DADAS”
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ACABAMOS O ANO EM BELEZA COM UM PERCURSO NA
NATUREZA
O Projeto “Pedestrianismo
e Ambiente de Mãos Dadas”, que já vai na 2ª atividade da II temporada, é
resultante de uma parceria entre o CADEP-CN, Amigos dos Açores Sta Maria e o
Grupo Desportivo Gonçalo Velho que, assumindo uma nova linha de dinâmica e abrangência
desportiva, criou o “Núcleo de
Pedestrianismo e Ambiente” (NPA), que visa a prática desportiva aliada à
promoção da saúde e qualidade de vida, através do “benéfico caminhar”,
associados à “fruição do património natural e cultural” e do “são convívio”.
É um desafio aos marienses para “deixarem o sofá” e porem
o “corpo a mexer” aos domingos de manhã (e algumas vezes aos sábados) através de
um desporto não competitivo, muito democrático e barato (Pedestrianismo), não necessitando de equipamentos sofisticados e
permitindo que se conviva presencialmente, ao longo de caminhadas descontraidas,
abrangendo todas as idades, ambos os sexos e nas quais os ritmos das pessoas
são respeitados.
Os percursos pedestres são todos guiados pelo coordenador
do NPA, com formação de Guia de Percursos Interpretativos na Natureza, havendo
explicações simples e interpretativas sobre as riquezas e belezas faunísticas,
florísticas, geomorfológicas e do património edificado constante dos
itinerários, o que constitui uma imperdível oportunidade de ligar o lazer ao
melhor conhecimento das riquezas naturais e patrimoniais de Santa Maria,
que se inserem nos perímentos do nosso Parque Natural de Ilha e fora deles.
Tal como na I Temporada, vão ser realizados 1 a 2 percursos mensais,
percorrendo-se os 5 PRs instituidos, os dois novos que o CADEP-CN concebeu no
ano passado e outros dois que serão criados em parceria com as juntas de
freguesisa de Sta Bárbara e Sto Espírito (“Lagos-Tagarete-Lagoínhas” e “Parque
das Fontinhas-Casas Velhas-Farroupo-Praia Formosa”.
Recordamos que o Pedestrianismo
é uma modalidade desportiva não competitiva, ligada à Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal, tendo associada à
sua prática, de forma muito intrincada, a promoção da saúde, o lazer e o
turismo, assim como a fruição, valorização e a conservação da natureza e do
património, daí a parceria entre o G.D.Gonçalo Velho e o CADEP-CN, assentarem
como uma luva, na congregação de objetivos.
CARACTERIZAÇÃO
E CENTRALIDADES DO NOVO ITINERÁRIO
Tem uma distância/duração
aproximadas: 6 Km/3h; Grau de dificuldade: fácil; Relevo:
predominantemente plano, com ligeiros declives; Áreas naturais especiais:
ZPE do Ilhéu da Vila e Costa Adjacente (Rede Natura 2000); Património urbano
classificado: “Convento dos Franciscanos” e ZH de Vila do Porto.
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Como centralidades apresenta: Património histórico, Apreciação
panorâmica da Zona Histórica de Vila do Porto; visualização superior do porto e
marina; aspetos geomorfológicos (Pedreira do Anal, filões basálticos...);
plantas aromáticas; litoral da Ponta do Malmerendo e seu farolim; observação e
interpretação da ZPE (Zona de Proteção Especial) do Ilhéu da Vila e Costa
Adjacente; observação de aves marinhas, migratórias e residentes; vegetação
costeira, Ribeira Seca, arriba da Ponta do Poção e topo sudoeste do Aeroporto,
onde se podem observar as pistas de aviação e alguns marcos históricos da
presença americana em Sta Maria.
O itinerário teve o seu início no Jardim Municipal, onde foi
dado enfoque ao antigo Convento dos Franciscanos (imóvel classificado) e ao
Padrão dos Descobrimentos.
Convento
dos Franciscanos
(Largo da
Senhora da Conceição ou Adro dos Frades)
O
convento teve a sua fundação aprovada em 1607,
tendo as suas obras se iniciado a 27 de outubro do mesmo ano. "É este
convento dedicado à Senhora da Vitória”.
Foram-lhe
procedidas obras de restauro em 1842, quando passou a
abrigar os diversos serviços públicos, tendo também importente intervenção, em 1979.
Nesta altura, necessita novamente de
restauros diversos, nomeadamente ao nível dos telhados e nas pedras de cantaria
da sua imponente fachada.
O
conjunto encontra-se classificado como Imóvel de
Interesse Público pelo Decreto nº 251/70, de 31 de julho de 1970,
classificação consumida pela sua inclusão no conjunto classificado da Zona Classificada de Vila do Porto, pelo
DLR n.º 22/92/A, de 21 de outubro.
Neste
largo, ainda existe o Padrão dos Descobrimentos, obra autoria de António Alcântara
de Mendonça Dias, inaugurada em 15 de Agosto de 1932. Posteriormente, em 11 de
Julho de 1960, recebeu uma palma de bronze, símbolo das comemorações em
homenagem ao Infante D. Henrique então promovidas em todo o país.
Depois de relembrado, pelo Guia, o Código de conduta e ética pedestrianista,
o grupo dirigiu-se à Canada do Campo,
atravessou a Ribeira do Sancho e fez nova paragem na antiga Pedreira do Anal,
onde foi explicada a génese geológica da “pedra de cantaria” cinzenta (a mais
rija da ilha) e que predomina nos edifícios históricos de Vila do Porto.
Dado
o seu interesse geomorfológico, sugerimos que seja efetuada a sua sinalização e
limpeza da envolvente.
Daqui,
prosseguiu-se para a cumeeira a norte da ribeira do Sancho, onde se defrutou de
uma alargara panorâmica sobre a Zona Histórica de Vila do Porto, e se falou
sobre a sua fundação e riqueza patrimonial.
Vila do Porto, o primeiro
burgo dos Açores
O
povoado de Vila do Porto, primeiro burgo dos Açores, foi fundado em 1450,
por Fernão
de Quental e João da Castanheira.
Está localizado em posição dominante numa lomba soalheira da costa Sul, frente
a ampla enseada, entre duas ribeiras - a Ribeira de São Francisco, também
referida como Ribeira Grande, a oeste, e a Ribeira do Sancho, a este -, que lhe
asseguravam tanto a defesa quanto o abastecimento de água. Foi elevado a vila
pelo o primeiro foral dos Açores, cerca de 1470.
Em 1901
recebeu a visita do rei D. Carlos
e da rainha D. Amélia;
ainda nesse mesmo ano, elegeu a primeira Câmara republicana do arquipélago.
Alimentado
por mais estes conhecimentos, o grupo prosseguiu viagem, até ao Farolim da
Ponta do Malmerendo, ao longo do litoral, sempre com a bonita paisagem do Porto
e da Marina, à esquerda.
Ponta do
Malmerendo ou da Malmerenda
(A origem
do nome e o seu farolim)
Sobre
a origem deste nome diz a lenda que uma família de 5 pessoas (pais e três
filhos), não dando voz aos vizinhos, se recusaram ir à missa pela Quaresma, e se
botaram à apanha das lapas, dizendo que as missas não lhes davam merenda, mas
sim o trabalho. Foram apanhados por uma enorme onda, que os levou mar a fora,
nunca mais aparecendo. Em memória do drama, passou então o povo a chamar o
local de “Ponta da Malmerenda”.
Neste local, o grupo fez uma paragem junto ao
farolim, com o mesmo nome, tendo recebido, por parte do guia, informações as seguintes sobre a edificação:
Começou a funcionar no ano de
1898, sendo apontado como uma das estruturas do género, mais antigas dos
Açores.
Tem como estrutura, um edifício
retangular, com 6 metros
de altura, pintado de branco e uma faixa vermelha, estando implantado a 50 m de altitude.
Como todos os faróis, não fugiu à
evolução tecnológica, estando equipado com uma lanterna Tideland, emanando uma luz branca, com alcance de 10 milhas marítimas.
Ilhéu da Vila e Costa Adjacente
(Santuário de aves marinhas)
O Ilhéu da Vila encontra-se a cerca de 200 metros da costa, a
poente de Vila do Porto. Abrange 7, 7 ha , tem 380 metros de
comprimento e 150 metros
de largura, tendo uma altitude de máxima de 75 metros . É um dos
principais santuários para a nidificação de aves marinhas dos Açores, sendo
fundamentalmente por isso, classificado como Reserva Natural (DLR nº 47/2008/A de 7 de Novembro),
A zona do Ilhéu da Vila, em associação com a
Costa Adjacente, pela sua riqueza ecológica também foi integrada na Rede Natura
2000, na categoria ZPE (Zona de Proteção Especial), abrangida pela Directiva
79/409/CEE, relativa à conservação das aves selvagens sendo também uma IBA
(Important Bird Área (IBA PT068 – Ilhéu da Vila), pela BIRD Life
International/SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves)
A ZPE do Ilhéu da Vila e Costa Adjacente, com
uma extensão total de 48
hectares , abrange o Ilhéu e uma faixa costeira que vai
desde a Ponta do Malmerendo até à Cagarra. Para além de ser um espaço importante
para nidificação de aves marinhas protegidas, a ZPE do Ilhéu da Vila e Costa
Adjacente também comporta exemplares muito raros da flora endémica costeira dos
Açores. Lotus azoricus, Myosotis maritima –
Não-me-esqueças e Spergularia azorica todas elas endémicas
dos Açores e protegias pela diretiva Habitats e Convenção de
Berna.
Nidificam na ZPE, aves marinhas protegidas tais
como: Calonectris diomedea borealis – Cagarro, Puffinus assimilis baroli – Frulho, Oceanodroma castro – Angelito, Sterna dougallii - Garajau-rosado
, Sterna hirundo - Garajau-comum, Columba palumbus azoricus
- Pombo-torcaz-dos-Açores, Charadrius
alexandrinus – Borrelho-de-coleira-interrompida, Bulweria bulwerii - Alma-negra,
nidificando esta última só no Ilhéu da Vila.
Um pouco mais adiante o grupo desceu até à foz da
Ribeira Seca, onde retemperou forças cm
uma ligeira refeição, sempre condimentada com a sã confraternização.
Sobre
a Ribeira Seca, refere Gaspar Fructuoso que “Não
corre água senão quando chove muito, e mete-se no mar em areia grossa, e é rasa
e muito perigosa para a terra, por ser aparelhadada e nela desembarcarem
inimigos, pelo que é necessário haver nela vigia”.
Neste local foi possível apreciar algumas escoadas basálticas e filões
interessantes, assim como avistar alguns Oryctolagus cuniculus - Coelhos-bravos
e Lacerta dugesii – Lagartixa-da-Madeira.
Não sendo o itinerário rico em
flora, no entanto, regista-se a presença abundante dos aromáticos Poejo (Mentha pulegium) e Murta (Myrtus communis),
assim como do Limonium vulgaris, do Juncus acutus e dos catos Babosa (Agave americana) e Toneira
(Opuntia
ficus-indica).
Terminada a refeição, passou-se pela Ponta do
Poção, e prosseguiu-se até ao topo da Pista Sudoeste do Aeroporto de Santa
Maria.
Nesta paragem, o guia informou
que o Aeroporto foi construído em 1945, tendo três pistas: uma com 3048 metros , outra com 1420 m e outras com 1830m. A
primeira, que é paralela à linha de costa é pavimentada em cimento e as outras
a betão asfáltico.
Foi inaugurado a 11 de julho de
1946, tendo tido o seu auge nas décadas de 50 e 60, e, ainda alguma relevância
nos anos 70.
Daqui até ao final do percurso, no
caminho paralelo à pista, observaram-se algumas aves residentes e limícolas,
nas zonas húmidas, e foi chamada a atenção para a observação de alguns
elementos físicos da presença americana na ilha, nomeadamente a antiga torre de controle, bocas de incêndio, tanques e condutas de combustível,
assim como as casas de chapa retangulares e
circulares (Quonset hut).
Todos lamentaram o estado de degradação em que se
encontram as pistas e demais elementos.
Como notas finais, enaltecemos
a participação do simpático grupo pedestrianista, tendo o bom humor a
gentileza, o são convívio e o vivo interesse pelas explicações do guia sido
constantes.
O nosso obrigado a todos pela
adesão, curiosidade e boa disposição, e de forma especial ao ao sempre
simpático e disponível Márcio Costa, do Gonçalo Velho, pela sua competência na
logística do evento.
Este novo itinerário, pela sua riqueza de património cultural e
natural e avaliação bastante positiva resultante deste teste, é mais um que o CADEP-CN/Amigos
dos Açores Sta Maria, propõe para consideração como P.Pedestre classificado, a
fim de ser rentabilizado como fruição/animação turística.
Estas atividades pedestrianistas,
de fruição patrimonial e promoção da saúde estão inseridas na Campanha Bandeira
Azul da Europa, para as zonas balneares de Sta Maria, à ligação parceira do
CADEP-CN com o Parque Natural de Ilha e, ainda, ao Projeto de Saúde Escolar e
Comunitária.
*José Melo
Coordenador do NPA do G.Velho
CADEP-CN e Amigos dos Açores Sta Maria
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