“TRAIL RUNNING”: DUREZA, ÉTICA, PRAZER
E RESPEITO PELA NATUREZA
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ALIA DESPORTO,
AMBIENTE, PATRIMÓNIO E TURISMO
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O Trail running (corrida pedestre em trilhos)
é uma modalidade desportiva que
alia desporto, fruição da natureza e património de forma muito intrincada, tal
como o Pedestrianismo,
diferenciando-se deste por incluir a corrida e a competição.
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São “Corridas Pedestres na Natureza”,
tradução do inglês Trail Runnig devendo ter um mínimo de percurso pavimentado/
alcatroado que não deverá exceder 10% do percurso total, em vários ambientes
(serra, montanha, planície, litoral, etc), idealmente em semi ou
auto-suficiência, mas não obrigatoriamente, a realizar de dia e/ou durante a
noite, em percursos devidamente balizados e marcados.
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A modalidade está atualmente na moda,
encontrando-se em franco crescimento no mundo inteiro e também em
Portugal, principalmente desde 2010,
tendo chegado aos Açores há cerca de quatro anos, começando pelas “Ilhas
do “Triângulo”, depois S.Miguel, tendo-se estendido a Santa Maria, o ano passado,
comprovando a ilha ter excelentes potencialidades para a sua prática, a ajuizar
pelo sucesso da “Colombus Trail Run”-2016.
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O Trail running é um tipo de corrida muito diferente das corridas
normais de estrada, e do corta-mato tradicional! Os percursos por onde são
realizadas as provas de Trail running incluem trilhos muito técnicos que na sua larga maioria só são
acessíveis a pé, por trilhos, onde normalmente se pratica o Pedestrianismo,
como acontece em Santa Maria, cuja Grande Rota, se traduziu, praticamente, na
ligação efetuada dos PR´s (Percursos Pedestes de Pequena Rota) já existentes.
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As cambiantes/desafios a vencer na
natureza contemplam zonas montanhosas com lama e grandes declives, subidas de
ribeiras com fundos rochosos, trepar
rochas, saltos sobre pedras, entre outros tipos de piso e desafios em terrenos
muito irregulares. Este tipo de provas é
essencialmente realizado em lugares com natureza prodigiosa, mas lguns já as
urbanizaram, fazendo-as também dentro das cidades, quer de dia quer de noite,
“urbanização” essa que desvirtua, em nossa opinião, a essência do “Trail Run”,
pelo divórcio que cria entre os “runner´s” e o ambiente natural, o qual esteve
na origem da criação da modalidade e constitui (deverá sempre constituir) a
genuína “infra-estrutura” da sua prática.
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NATUREZA COMO ALIADA E “ADVERSÁRIA”
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Para um verdadeiro “runner” a natureza é a principal fonte de atração e de
inspiração para a modalidade e na sua prática, mas os seus cambiantes e
obstáculos a transpôr/vencer também são os principais “adversários”. Como
constatamos no ano passado no acompanhamento que fizemos ao nossos atletas do “Núcleo de Pedestrianismo, Ambiente e Trail
Run” do Gonçalo Velho, por vezes, os percursos são tão técnicos, duros e
declivosos que vão das rochas do litoral até aos pontos mais altos das
elevações (montes), passando por terrenos e declives/desníveis tão acentuados
que os atletas não conseguem correr, sendo obrigados a caminhar a passo,
colocando um misto de Pedestrianismo nas provas.
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São extremamente exigentes quer física quer pricologicamente, exigindo-se
aos atletas formaçao adequada nesses níveis, assim como uma necessária
sensibilidade e educação ambiental, para respeitar a natureza e beber dê-la a
fonte de inspiração e de recuperação de forças.
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Como se viu na “Colombus Trail Run-2016” e exigem as organizações, para suportar a dureza destas provas, os
atletas levam uma mochila especial com água e suplementos alimentares para
repor energia durante os percursos, assim como outros acessórios que
normalmente são ou poderão ser precisos nalgumas situações, tais como GPS, frontal, manta térmica e
bastões para ajudar nas partes mais duras da prova.
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Pondo-me no corpo e dando voz aos vários atletas que acompanhei na “Colombus Trail Run” do ano passado,
durante cerca de 10 horas, e na decorrência de várias conversas com outros participantes mais experientes e
“alfabetizados” no Trail running, qualquer um deles poderia dizer o seguinte:
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“Nas provas de trail run, perante as
belezas e as dificuldades, ficamos ora extasiados ora pequeninos e humildes às
mãos da beleza e do feitio/obstáculos da mãe natureza. Da natureza que nos
inspira e nos dificulta a progressão, confronta-nos com a nossa própria
natureza, nossos receios e forças, assim como com a nossa cómoda/irrefletida
posição dominante e agressora sobre meio ambiente onde nascemos e que nos
suporta a vida, o qual, de forma responsável,
devemos apreciar, respeitar e
usar de forma sustentável.
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São lutas constantes com tudo. O terreno, o trilho que teima em não nos
facilitar a corrida, as cãibras, as dores musculares e traumáticas das várias
quedas, o pó ou a lama, os arranhões, os picos nas mãos, as bolhas nos pés… Não
há prova que não termine sem trazer um pouco do percurso marcado no corpo, mas
também a beleza altamente compensadora da grandeza do patrimóniio natural e
cultural gravada na mente e na alma.”
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Nas várias prova que fizemos de
Trail run, não há uma onde não se pare hesitantes perante um qualquer obstáculo
que transpusemos e se diga baixinho para dentro de nós: “Soberbo espectáculo!
Dói mas compensa, pela natureza e pelo companheirismo!”
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ALFABETIZAÇÃO DESPORTIVO/AMBIENTAL E O
COMPANHEIRISMO/SOLIDARIEDADE
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O Trail running é caracterizado
pela competição saudável, com um desportivismo e solidariedasde que só o Pesdestrianismo e este tipo de provas
na natureza tem. Pelas suas características de “Desporto de Natureza” é
apanágio desta modalidade o vincar do
respeito pelo ambiente, visto que a maioria das provas são feitas no
litoral marinho, montes e vales, proporcionando
também aos atletas o privilégio de fruirem de magníficas e singulares
paisagens, como aconteceu em Santa Maria, deleitando os participantes.
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O som do mar, das ribeiras, dos
pássaros e das passadas é o que ouvem os runner´s quando correm. Não, não é
apenas correr. É mais do que isso. O Trail
running, pelo que já conheci, em termos de ambiente humano e relação
necessária com a natureza, é também um “estado
de espírito”, com vincada “introsepção” nos largos tempos em que os atletas
estão a sós com a mãe natureza.
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Outra componente do Trail running que mais me marcou, no
acompanhamento dos nossos atletas do “Núcleo
de Pedestrianismo, Ambiente e Trail Run” do Gonçalo Velho e do convívio e
observação de outros, foi o companheirismo e a solidariedade entre aqueles que
já estão mais alfabetizados na sua prática e já se inteiraram do seu espírito. O
ambiente humano e espírito que envolve os amantes do Trail Run é de veras transcendente,
como se todos pertencessem à mesma equipa.
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No pelotão da partida e no decorrer das provas eles partilham experiências,
dão conselhos aos menos experientes, se
ajudam, se incentivam e apoiam. Foi com alegria ver muitos dos primeiros a
apoiar os últimos nas metas das provas em Sta Bárbara e no Forte de S.Brás
mesmo com uma diferença de algumas horas nas chegadas. Fazem-no porque todos
enfrentaram os mesmo desafios, passaram pelas mesmas dificuldades e sabem o
quanto é doído. Tal como diz o amigo e Diretor da Colombus Trail Run, Mário
Leal:
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“Quem não estiver preparado para sofrer não se dá bem com o Trail
running”.
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É escusado queixarem-se deste ou daquele organizador ou deste
ou daquele troço, porque todas as provas são duras e difíceis, mas para o
“verdadeiro runner”, se as provas forem fáceis demais, ralas de obstáculos e
sem belas riquezas naturais, normalmente, não as repete e as desaconselha a
outros.
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Posso concluir que os melhores momentos do Trail Run são mesmo os
mais humanos, os de deslumbramento perante a força da natureza e a alegria dos
desafios vencidos. E essa força, no Trail, são os atletas, quando
devidamente “alfabetizados” em respeito
pela ética desportiva, lealdade, solidariedade
e pela natureza, devendo só deixar nela a marca dos seus pés e unicamente
levar as belas fotos e vídeos que registam, para recordar e promover ambiental
e turisticamente as lindas terras como Santa Maria, como aconteceu no ano
passado e vai acontecer na Colombus Trail Run-2017. Visando
essa “alfabetização” tão necessária e aperfeiçoamento técnico-desportivo
específico, o “Núcleo de Pedestrianismo, Ambiente e Trail Run” do Gonçalo Velho, em conjunto com a Câmara Municipal vão
realizar, ainda este mês fevereiro, uma formação direcionada a todos os atletas
de Sta Maria, com o técnico e professor Paulo Pires e o Diretor da “Colombus Trail Run”, Mário Leal.
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A
VERTENTE TURÍSTICO-ECONÓMICA DO TRAIL RUN
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Tal como o Pedestrianismo, o Trail
running incorpora a aliança
entre o desporto, a fruição do ambiente e apreciação do património e, de forma multiplicadora,
a vertente turística, pela chamada
de praticantes e seus acompanhantes aos locais mais apetecíveis para a pratica
da modalidade, como os Açores, decorrendo daí benefícios económicos evidentes
para as economias locais, sendo exemplo disso a prova mariense “Colombus Trail Run”, cuja 2ª Edição vai
acontecer no dia 25 deste mês, contando-se com mais de uma centena de atletas.
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Sobre importância eco-turística e económica do ‘Trail Run’ para os Açores,
transcrevo abaixo as declarações do Secretário do Turisno, na cerimónia da “Colombus Trail Run”, as quais subscrevo
totalmente.
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“ São eventos marcantes para a promoção dos Açores, salientando a divulgação
que permitem das paisagens da Região como cenários de competição e,
simultaneamente, como produto turístico de lazer, através dos trilhos.
Está provado que a visibilidade
deste tipo de eventos, que tiram partido dos nossos recursos naturais e
potenciam o desenvolvimento sustentável, associando as vertentes ambiental.
lúdica e competitiva, contribui eficazmente para atrair praticantes deste tipo
de desportos, mas também um nicho de mercado de turistas que privilegiam o
contacto ativo com a natureza.
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Nesse sentido, também destacou a importância do Pedestrianismo como produto
de ano inteiro e transversal a todas ilhas, recordando que existem actualmente
no arquipélago 80 trilhos homologados, com uma extensão total superior a 716 quilómetros.”
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Que todos os valores acima expostos, sejam sempre a tónica marcante da “Colombus Trail Run”, cuja 2º Edicão
vai acontecer no dia 25 de fevereiro, estando convicto de que a prova se
cimentará como um dos maiores eventos desportivos e de atração/animação
turística de Santa Maria.
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* José Andrade Melo
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Ambientalista e formador superior de Educação
Ambiental
Coordenador do “Núcleo de Pedestrianismo,
Ambiente e Trail Run” do Gonçalo Velho
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eco.melo@gmail.com