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8 de maio de 2012

NUNO FERREIRA EM SANTA MARIA: CONTATOS COM FIGURAS INTERESSANTES DA ILHA

António Moura Baptista: Ex-Regedor e o último moleiro de Santa Bárbara
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Na freguesia rural de Santa Bárbara, na Ilha de Santa Maria, o ex-regedor António Baptista, 90 anos celebrados no passado dia 20 de Abril, recorda o tempo em que se vivia única e exclusivamente da plantação de batata-doce, milho e trigo, cozendo o pão em casa, à luz do candeeiro de petróleo. «A luz e a água canalizada só chegaram depois do 25 de Abril».

Lá fora, a pequena Santa Bárbara e as suas casas tipicamente marienses pintadas a branco e azul (a cor da freguesia) afoga-se em pastos verdes e neveiro que trepa em direcção ao Pico Alto. António Moura Baptista vive ali, muito perto da Igreja, desde que aos seus 14 anos o pai, um natural de Viana do Castelo, construiu aquela casa. «O meu pai era um homem de muito trabalho. Viveu na Madeira e da Madeira veio para Santa Maria e aqui ficou».

Em jovem, numa Santa Maria rural onde ainda não tinham chegado os americanos nem o aeroporto, António acartava lenha do Pico Alto para cozer o pão, picou brita na estrada nova e trabalhou no campo. «Tudo a pé descalço, plantando milho, batata-doce, trigo. Ganhava-se quatro escudos e meio por dia. Para se ganhar um alqueire de trigo eram precisos quatro dias de trabalho. Nunca faltou o pão, faltava o que enganar o pão…»

Durante a IIª Guerra Mundial, o petróleo foi racionado, bem como outros bens essenciais. «Em vez de petróleo usávamos óleo de baleia para iluminar as casas».

António Baptista saiu da ilha dois anos e meio para servir tropa na Ilha de São Miguel. No fim dos anos de serviço militar, aconselharam-no a ir para a guarda nacional republicana ou para a polícia. «Eu não quis, não queria mais farda em cima de mim».

A chegada dos americanos à Ilha de Santa Maria para construir o aeroporto, em 1943, trouxe consigo muita gente e aumentou os salários. «O salário de quatro escudos e meio levantou para 14. Veio muita gente de São Miguel e das outras ilhas para trabalhar no aeroporto».

Em 1962, escolheram-no para Regedor de Santa Bárbara. «Fui escolhido devido ao meu bom comportamento. Eu não queria mas não podia negar. Se negasse, suspeitavam que fosse subversivo e comunista. Fiquei durante um ano e ao fim de cada ano pedia demissão mas eles queriam sempre que eu ficasse».

António enquanto trabalhava na moagem e na mercearia e loja de fazendas do pai, era a autoridade da pequena freguesia, na altura ainda com cerca de mil habitantes. «Hoje tem uns 400 e poucos, muita gente emigrou para o Canadá».

Em sua casa. Guardava religiosamente o manual do regedor, o livro do código administrativo e o código criminal. O salário como regedor era de um escudo por dia. «Aqui sempre foi uma freguesia sossegada mas se houvesse um problema, eu era chamado. Eu pedia para as pessoas se entenderem, para não ter de chamar a polícia».

A pobreza em Santa Bárbara, como em muitas freguesias açorianas, levou muita gente a emigrar. «Estava tudo apertado, foi muita gente daqui para o Canadá. Tivemos um presidente da câmara que dizia que as pessoas não queriam emigrar. Até que um dia veio cá o governador civil dos Açores e perguntou ao padre daqui porque os de Santa Maria não emigravam. Foi esse padre que informou da situação, o presidente da câmara dizia que as pessoas se amanhavam b em. A partir dessa altura, vieram muitas cartas de chamada e muita gente partiu».

Santa Bárbara só teve água canalizada e luz eléctrica depois do 25 de Abril. «Veio cá o Marcelo Caetano. Foi num dia de primavera. Eu falei com ele sobre a água e a luz e depois todos os regedores fomos chamados para ir ao hotel onde ele estava».

A água e a luz eléctrica só chegaria a Santa Bárbara depois do 25 de Abril. «Penou-se muito, vivíamos aqui isolados, nem sequer um jornal tínhamos».
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In: Site "Café Portugal"
Nuno Ferreira | terça-feira, 8 de Maio de 2012

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