Manuel António Pina, 68 anos, nasceu no Sabugal em 1943, e licenciou-se em
Direito pela Universidade de Coimbra. Para além de poeta foi também um consagrado
autor de literatura infanto-juvenil, tradutor, professor e cronista. Ao longo
de mais de 30 anos foi colunista do Jornal de Notícias, onde começou a
trabalhar em 1971. A
sua obra está publicada em Espanha, França, Dinamarca, Alemanha, Países Baixos,
Croácia, Bulgária, Rússia e Estados Unidos.
Abaixo recordo um texto seu, no qual me revejo inteiramente, sobre, o que
se valoriza na política cultural em Portugal, fazendo jorrar milhões de euros
do erário público para, cruéis práticas que torturam animais, desrespeitam a
vida e envergonham Portugal.
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VIVAS À MORTE!
(Por Manuel António Pina. In JORNAL DE
NOTÍCIAS, 23 de Fevereiro de 2010.
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Só nos faltava esta: uma ministra da Cultura para quem divertir-se com o
sofrimento e morte de animais é... cultura. Anote-se o seu nome, porque ele
ficará nos anais das costas largas que a "cultura" tinha no século
XXI em Portugal: Gabriela Canavilhas. É esse o nome que assina o ominoso
despacho publicado ontem no DR criando uma "Secção de Tauromaquia" no
Conselho Nacional de Cultura. Ninguém se espante se, a seguir, vier uma "Secção de
Lutas de Cães" ou mesmo, quem sabe?, uma de "Mutilação Genital
Feminina", outras respeitáveis tradições culturais que, como a
tauromaquia, há que "dignificar".
O património arquitectónico cai
aos bocados? A ministra foi ali ao lado "dignificar" as touradas. O
património arqueológico degrada-se? Chove nos museus, não há pessoal,
visitantes ainda menos? O teatro, o cinema, a dança, morrem à míngua? Os jovens
não lêem? As artes estiolam? A ministra foi aos touros e grita "olés"
e pede orelhas e sangue no Campo Pequeno. Diz-se que Canavilhas toca piano.
Provavelmente também fala Francês. E houve quem tenha julgado que isso basta
para se ser ministro da Cultura...
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