"O único argumento legítimo e verdadeiro que têm [os aficionados], é o
de a tourada ser um espectáculo legalizado e, como tal, terem todo o direito
a participar. Ponto final porque acabam
aí os argumentos válidos. O sr. que fala em adrenalina ou no sangramento para
alívio do touro obviamente não entende nada de biologia, de fisiologia ou de
comportamento animal; percebe apenas da sua adrenalina quando assiste a
espectáculos de violência. Essa dos sangramentos para alívio dos humores foi
uma prática médica muito em voga na Idade Média mas abandonada posteriormente.
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O que está na base do movimento anti-touradas não é claramente uma questão
de gostos. Os gostos não se discutem. O pior é quando os nossos gostos colidem
com a vida ou a integridade física de outros. Gostar é diferente de amar ou
respeitar. É por demais evidente que os pedófilos gostam de crianças; mas é uma
maneira de gostar que passa pela exploração dos menores e pela negação dos seus
direitos.
Os que vivem da indústria tauromáquica cuidam dos touros porque vivem da
sua exploração; se eles não lhes trouxessem rendimento, duvido que tratassem
deles em regime pro-bono. Mas fica o desafio: vamos ver quantos aficionados
amam verdadeiramente a raça taurina e se dispõem a cuidar dos exemplares
existentes quando acabarem as touradas. Como fazem, por exemplo, as associações
de animais por este país fora, que abnegadamente se dedicam a cuidar de cães e
gatos abandonados.
Outra falácia comum para fugir à discussão séria sobre ética é comparar a
vida em liberdade que precede a tortura na arena à vida dos animais em criação
intensiva. É claro que a criação intensiva é uma ignomínia, mas não invalida
que as corridas de touros não constituam também uma ignomínia. Aqui podemos cair na questão de comparar
coisas parvas como campos de concentração, por exemplo: seria melhor acabar em
Auschwitz ou em Treblinka? É melhor morrer à nascença ou aos 4 anos? Com uma
facada no peito ou afogado? Tudo isto são questões absolutamente laterais e
cujo único objectivo é desviar a atenção de uma pergunta muito simples: é
eticamente aceitável criar um animal para o massacrar publicamente e ganhar
dinheiro assim? Se respondermos sim, abrimos a porta para as lutas de cães, de
galos, e até de indivíduos que, por grande carência financeira ou mesmo falta
de neurónios, se disponham a entrar num recinto e participar numa luta de morte
em jeito de espectáculo. Há quem goste de ver. E se vamos pela quantidade de
público a assistir, nada batia os linchamentos públicos nos pelourinhos. Mas
isso também acabou; houve uma altura em que passámos a considerar isso um
espectáculo incorrecto e imoral.
Vi agora que ainda há mais uns pseudo-argumentos: comparar injecções ou
vacinas com as bandarilhas. Parece uma brincadeira comparar uma agulha fina com
o objectivo de tratar uma doença ou evitar outra - no caso das vacinas - com a
introdução de 9cm em metal grosso, cujos 3cm finais são em forma de arpão para
não sair e continuar a rasgar os músculos e os ligamentos durante a lide. Das
duas, três: ou está a brincar, ou não usa o raciocínio ou quer enganar os
outros. Depois vem mais uma das
bandeiras frequentemente agitadas: a da extinção do touro bravo. Como muitos
dos que lutam contra a existência das touradas são pro-ambientalistas, este
parece ser um argumento forte. Parece, mas obviamente não é. O que os
ecologistas defendem é a não interferência nos ecossistemas porque há
equilíbrios frágeis cuja totalidade das varáveis são desconhecidas e as rupturas imprevisíveis.
Não tem nada a ver com o touro bravo. A extinção do touro bravo teria o mesmo
impacto ambiental que a extinção do caniche. Podemos lamentá-la, claro, por
razões sentimentais, mas não afectam em
nada os ecossistemas. E se falamos de ambiente, as herdades onde se faz a
criação extensiva de touros podiam dar lugar a montados de sobro e plantação de
oliveiras. Temos um clima e um solo excelentes para a produção de azeite e
cortiça e não somos autónomos na questão do azeite, o que nos traria ganhos
financeiros e mais independência económica. Os toureiros, se quisessem
reconverter-se, podiam ir para a apanha da azeitona com as suas calcinhas
justas e a jaqueta de lantejoulas; não seria prático mas dava uma nota de cor
aos campos nessa altura do ano."
* In: Blogue "Defender Portugal"
4 comentários:
excelente! levei...
Das muitas coisas que estao mal escritas e sem qualquer fundo de verdade houve uma que nao pude deixar de comentar e rarissimo encontrar uma pessoa cujo o seu rendimento seja proveniente da industria tauromaquica que nao tenha prejuizo
Das muitas coisas que estao mal escritas e sem qualquer fundo de verdade houve uma que nao pude deixar de comentar e rarissimo encontrar uma pessoa cujo o seu rendimento seja proveniente da industria tauromaquica que nao tenha prejuizo
Das muitas coisas que estao mal escritas e sem qualquer fundo de verdade houve uma que nao pude deixar de comentar e rarissimo encontrar uma pessoa cujo o seu rendimento seja proveniente da industria tauromaquica que nao tenha prejuizo
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