Um estudo que
envolveu Santa Maria
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“É essencial compreender que, mesmo com um passado difícil (emigração
massiva, isolamento), subsiste sempre um potencial que permite fazer evoluir as
ilhas para lógicas renovadas. A questão hoje é saber como usar as heranças do
passado, para criar novas dinâmicas e um futuro positivo para as comunidades
insulares.”
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As ilhas mudam. É uma realidade,
e é uma realidade que não deixa ninguém indiferente. Quer seja para espalhar a
saudade duma idade de ouro, ou então promover as virtudes do progresso, todos
os temas são validos para pôr em relevo a mudança.
Mas falar de ilhas é tocar no emocional, no
imaginário e no sonho. Parece que existe uma “ilha” que vive nas mentes, mas
cuja imagem não encaixa com a realidade. E então, como usar essa ilha sonhada
que vive em nós, no inconsciente coletivo, para reinventar e valorizar as ilhas
reais? Para criar e recriá-las à nossa maneira?
Uma parte da resposta chegou graças a uma
pesquisa de quatro anos (de 2007 até 2011) ao estudar espaços insulares. É na
área da Geografia Humana e Ambiente (quer dizer que estuda a relação entre as
sociedades humanas e o espaço onde vivem, neste caso as ilhas) e no quadro da
Universidade francesa de La Rochelle, que foram percorridas as ilhas dos Açores
(mais especificamente Pico, Flores e Santa Maria) e três ilhas do arquipélago
das Hébridas, na Escócia. A ideia era perceber melhor a relação entre o passado
dessas ilhas, e a construção dum futuro mais equilibrado e sustentável.
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No século XX, houve mudanças essenciais que
marcaram os espaços insulares (principalmente as ilhas integradas no seio da
União Europeia, como os Açores) as quais tiveram consequências problemáticas,
mas também, emergiu uma progressiva tomada de consciência dos desequilíbrios
criados.
É essencial compreender que, mesmo com um
passado difícil (emigração massiva, isolamento), subsiste sempre um potencial
que permite fazer evoluir as ilhas para lógicas renovadas. A questão hoje é
saber como usar as heranças do passado, para criar novas dinâmicas e um futuro
positivo para as comunidades insulares.
Esta pesquisa levou-nos a fazer mais de 200
inquéritos a açorianos, nativos ou novos residentes, para perceber como
observaram essas mudanças ao longo dos anos, e como imaginam o futuro. Foram
usadas imagens antigas, e também criadas várias montagens fotográficas
antes/após, para pôr em destaque as importantes mudanças vividas no
arquipélago, na época contemporânea.
Através dos testemunhos e das leituras,
apareceram então as grandes mutações que essas ilhas (Açores e Hébridas)
tiveram que enfrentar durante o ultimo século: mudanças de ciclos económicos,
emigração, entrada na União Europeia e na PAC, abertura ao mundo com os
transportes aéreos, chegada do turismo, conexão à internet, entrada na era da
proteção do ambiente… que vieram transformar totalmente a maneira de viver. O
último século trouxe com ele as reviravoltas mais intensas que as ilhas
conheceram em toda a sua história.
Neste início do século XXI, temos a
possibilidade de fazer emergir o que chamaremos a reinvenção insular”. É
fulcral tomar consciência dos limites ambientais das ilhas, e observar como são
amplificadores de mudanças e reveladoras das lógicas mundiais atuais.
Além da pesquisa científica pura, o papel dos
cientistas é também de propor novos tipos de desenvolvimento para esses
espaços. Dessa investigação foram então destacadas nove ideias e propostas
concretas para reinventar ilhas. Ideias tais como: valorizar a pluriatividade,
apontar para a auto-suficiência alimentar ou adotar a “fini(ati)tude”, cada uma
dessas ideias sendo detalhada no escrito final.
Algumas dessas propostas podem ser aplicadas a
todos os tipos de espaços insulares. Outras são mais difíceis de implementar a
curto prazo, mas é sempre possível com uma vontade coletiva e individual forte.
Começar a acreditar que a ilha sonhada corresponde a uma realidade tangível,
sendo possível dar vida a este sonho e criar ilhas com futuro.
In: “Mundo Açoriano”
Texto adaptado de: Nina Soulimant
Doutora em Geografia Humana e
Ambiente
Fotos: Santo Espírito, e Sta Bárbara
(Foto Pepe).
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